São Paulo, quarta-feira, 9 de novembro de 1994
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França prende 95 suspeitos de colaboração com terror argelino ;Guerra civil

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

França prende 95 suspeitos de colaboração com terror argelino
Noventa e cinco pessoas foram detidas ontem na França, acusadas de colaborar com terroristas muçulmanos na Argélia.
A operação pente-fino da polícia francesa apreendeu armas e explosivos e descobriu em Paris uma gráfica clandestina que produzia documentos falsos.
O governo francês endureceu sua posição em relação aos estrangeiros muçulmanos, temendo a expansão do radicalismo islâmico em seu território.
O ministro do Interior, Charles Pasqua, disse que a segurança nacional estava ameaçada.
Segundo ele, todo imã (líder religioso muçulmano) estrangeiro que se transformar em propagandista antifrancês será expulso.
Pasqua não está brincando: no domingo passado, um imã argelino foi expulso, sem direito a defesa, sob a acusação sumária de atentado à ordem pública.
Os 95 detidos não serão expulsos, segundo Pasqua. Eles deverão ser entregues à Justiça francesa.
Um imã da mesquita de Nanterre (periferia de Paris) disse à Folha que as ações do governo francês visam apenas obter dividendos eleitorais.
" É tudo para pegar os eleitores de Le Pen", disse o imã, referindo-se a Jean-Marie Le Pen, candidato da extrema direita à Presidência. Os franceses elegerão um novo presidente em 1995.
A mesquita de Nanterre foi acusada pelo jornal "Le Parisien" de ser um foco de extremistas muçulmanos. O imã refutou a acusação e disse que vai processar o jornal.
Há duas semanas, 22 meninas muçulmanas foram expulsas de escolas secundárias na França por se recusarem a ir às aulas sem o véu tradicional de sua religião. O governo alega que uma lei proíbe " símbolos religiosos ostensivos" nas escolas –mas o uso de crucifixos não tem sido reprimido.
Guerra civil
Os radicais islâmicos estariam usando a França como ponto de partida para atos terroristas na guerra civil não-declarada que atinge a Argélia.
Em janeiro de 1992, o governo argelino anulou as eleições legislativas vencidas pela FIS (Frente Islâmica de Salvação).
Desde então, cerca de 10 mil pessoas –segundo as avaliações mais otimistas– teriam sido assassinadas na Argélia, em atentados que não poupam intelectuais, crianças e civis em geral.
Os dois principais grupos armados de oposição na Argélia são o AIS (Exército Islâmico de Salvação, braço armado da FIS) e o GIA (Grupo Islâmico Armado).
Documentos do GIA foram encontrados pela polícia em Paris. Eles ensinam a fabricar munição e aparelhos de controle remoto para explosões à distância.

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