São Paulo, sexta-feira, 11 de novembro de 1994
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Caetano escreve 'press release'

DA REPORTAGEM LOCAL

O cantor e compositor baiano Caetano Veloso escreveu o texto do "press release", que está sendo distribuído com o CD "Antonio Brasileiro".
No texto, de três páginas, o músico afirma que a "exuberância esmagadora" do talento de Tom tem sido mais estimulante do que inibidora para os músicos de sua geração: "É que a criação da bossa nova, a par de uma subida do nível de exigência, trouxe muitas sugestões de portas a explorar.".
"Essas rotas incluíam do olhar para a tradição ao profundo diálogo internacional, do apuro técnico ao desvendamento do Brasil. E nós atendemos ao chamado: de Edu Lobo a Paulinho da Viola, de João Bosco a Roberto Carlos (...), enfim, tantos e tantos que nos reconhecemos menores diante do grande mestre não nos sentimos, no entanto, meramente redundantes ou necessariamente supérfluos: nos momentos de bom humor, reconhecemos estar cumprindo tarefas para as quais as ordens estavam embutidas nas harmonias, nas decisões, nas recusas mesmas da bossa nova. É por isso que ouvimos cada disco novo de Tom com um ouvido a um tempo privilegiado e comprometido."
A seguir, Caetano analisa faixa a faixa. Elogia a versão moderna e jazzística de "Só Danço Samba" (que abre o disco) e o tradicionalismo de "Piano na Mangueira". Segundo Caetano, as duas músicas levam a "uma meditação sobre 'Orfeu da Conceição' e o Beco das Garrafas", "sobre como a musicalidade de Tom cobriu esse amplo espectro que vai de um ao outro, levando a cada segmento do longo caminho a dignididade de seu som e o refinamento de sua concepção".
Para Caetano, "Piano na Mangueira" é uma música mais complexa e moderna do que "Só Danço Samba".
Outro aspecto observado pelo músico baiano está na faixa "Trem Azul"' (Lô Borges-Ronaldo Bastos), com versão em inglês por Tom: "Fica mais evidente do que nunca que o modo como os mineiros trataram o legado dos Beatles, ou seja, o que se ouve no universo sonoro de Milton e sobretudo nas soluções composicionais de Lô faz destes os precursores do estilo que justamente Sting viria a desenvolver anos mais tarde."
Caetano conclui: "Que isso se dê exatamente num disco de Tom é prova não só de sua receptividade mas também do lugar vital que ele ocupa no organismo da música brasileira. Por mais que ele ironize a solenidade de sua posição, fica patente que tudo passa por ele."

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