São Paulo, sexta-feira, 11 de novembro de 1994
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Tom Jobim lança "ecobossas" em CD

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

A música do maestro Antonio Carlos Jobim, 67, não é de "levantar poeira", como ele mesmo afirma no samba "Piano da Mangueira", feito em 1992 em parceria com Chico Buarque. Mas cada grão que ele acrescenta à grande tradição da MPB merece festa.
Tom está lançando o CD "Antonio Brasileiro", o primeiro em sete anos. Chega às lojas no próximo dia 16, quarta. Será comercializado no exterior pela Sony Music, ainda sem previsão de data.
O compositor sempre trabalhou lentamente seus sete discos solos anteriores –que, afinal, não são tantos se comparados às cerca de 500 canções que escreveu desde 1949, parte delas "standards".
"O trabalho não tem compromisso em lançar músicas inéditas de sucesso", ironizou o compositor durante as gravações, que aconteceram entre o final de 1993 e o início deste ano. Tom não dá crédito às cobranças do mercado e também não está concedendo entrevistas. Está em Nova York.
O disco fala sozinho. Tom convocou amigos e parentes para tocar e compor. Essas pessoas, por coincidência, formam o núcleo criativo da MPB: família Caymmi, o filho Paulo e o neto Daniel, a cantora Paula Morelenbaum, Jacques Morelenbaum, Chico Buarque. Na MPB, "mainstream" é nepotismo estético.
O cantor e compositor inglês Sting participa da faixa "How Insensitive (Insensatez)". Sting, que já cantou com Tom em shows ecológicos, mostra intimidade com a bossa. Canta de um jeito pop.
Os arranjos seguem o esquema do CD "Passarim" (Verve, 1987). O "one finger piano" e a voz rouca do maestro se entrelaçam a flauta, cordas, percussão e coro feminino.
Há uma música inédita para cada ano em que não lançou nada. O estilo é regressivo. O fundador da bossa nova faz o movimento retrógrado e chega às harmonias clássicas e modais ao estilo de Radamés Gnattali e Villa-Lobos, seus mestres iniciais.
No fim dos anos 50, Tom se deixa afetar pelo campo harmônico mais livre de Dorival Caymmi, admirador de Gerswhin (cuja música ele diz ter conhecido antes do que a de Villa-Lobos).
A primeira fase de Tom, hoje desconhecida, trai um vinco clássico e arranjos impressionistas. Ora, esse é o tom do novo CD, acrescido da mania ecológica.
No "Samba de Maria Luiza" brinca com a filha de 7 anos numa toada. "Forever Green" é mais uma das "ecobossas" típicas do maestro. "Maricotinha" é um samba inédito assinado e cantado por Dorival Caymmi. "Pato Preto", um baião erudito à moda de Villa-Lobos. A imitação de Villa volta em "Trem de Ferro", com versos de Manuel Bandeira, canção quase-minimalista. "Meu Amigo Radamés" e "Radamés y Pelé", as duas melhores faixas, são bossas choradas e cromáticas.
Tom é capaz de lançar inéditos que já nascem clássicos.

Disco: Antonio Brasileiro
Lançamento: Som Livre
Quanto: R$ 20,00 (o CD, em média)

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