São Paulo, sexta-feira, 11 de novembro de 1994
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As hordas estão chegando

A decisão dos eleitores californianos de suspender a concessão de serviços públicos como educação e saúde a imigrantes ilegais lança luzes sobre um tema que, em menos de 20 anos, entrou na agenda dos problemas mundiais.
De fato, até mais ou menos o final dos anos 70, a imigração era muito mais uma solução do que um problema. Grandes nações como os EUA e o Brasil foram construídas com base em uma política de incentivo à imigração. Mais recentemente, países ricos da Europa trouxeram estrangeiros para realizar as tarefas consideradas desagradáveis que a população local, profissionalmente mais qualificada e enriquecida, se recusava a fazer. A partir dos anos 80, contudo, vários fatores transformaram a imigração num pesadelo para os países ricos.
A crise da dívida externa iniciada em 82 atingiu profundamente os países subdesenvolvidos. E se a vida sempre foi difícil nessas nações, havia ao menos uma perspectiva de melhora que deixou de existir com o advento da alta dos juros. Junte-se a isso altas taxas de crescimento demográfico e um parente que vive no exterior e tem-se a receita para que se estabelecessem os atuais fluxos migratórios.
Ocorre que também na Europa Ocidental e nos EUA (as regiões mais procuradas pelos imigrantes) a revolução tecnológica dos últimos tempos teve seus efeitos. O desemprego cresceu. O trabalhador estrangeiro, antes visto como alguém pago para fazer o que o americano ou o europeu não queriam, passou a ser encarado como um rival na busca do emprego. O rápido crescimento das populações estrangeiras também teve impacto nos serviços públicos. O contribuinte teve de pagar mais. Essa situação propiciou o ressurgimento de velhas idéias xenófobas e racistas.
Os países ricos agora procuram criar barreiras à imigração. Trata-se, porém, de uma medida paliativa. Os novos muros que se vêm levantando entre ricos e pobres não conseguem impedir que mais e mais migrantes arrisquem-se a uma vida na ilegalidade.
A única maneira de efetivamente conter os fluxos migratórios é dar as condições para que as pessoas permaneçam em seus países de origem. Para o Primeiro Mundo, a alternativa é investir em países pobres ou ser invadido por um exército de miseráveis.

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