São Paulo, sexta-feira, 11 de novembro de 1994
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Mário Incoerência Covas

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA – Quando Fernando Collor convidou o PSDB para compor o seu ministério, ainda na fase do "Bolo de Noiva", uma voz tucana rebelou-se: a de Mário Covas.
Não se sabia, àquela altura, que a podridão consumiria os porões da administração Collor. A posição de Covas era, portanto, ideológica.
Ele havia subido no palanque de Lula. Considerava o então oponente do PT excessivamente conservador.
Uma nódoa manchava a fachada progressista que Collor tentava ostentar à época: ele havia votado em Maluf no Colégio Eleitoral, contra Tancredo.
Collor fez pelo menos mais três investidas em direção ao PSDB. Covas, itransigente, contribuiu para a inviabilização de todas elas. A ponto de Collor enxergá-lo como um inimigo.
Mais recentemente, quando Fernando Henrique aproximou-se do PFL, Covas voltou a abespinhar-se. Foi preciso liberar alguma saliva para contê-lo.
Covas resistiu o quanto pôde ao entendimento com o partido de ACM que, aliás, negociava com Maluf, então candidato à Presidência.
Agora, surpresa, estupefação, Covas une-se, sem mais nem menos, a Paulo Maluf, seu arquirival na política paulista. E o faz num instante em que parecia mais tranquilo, depois de atrair o apoio do PT à sua candidatura.
O PT, diga-se, está em situação igualmente difícil de ser explicada. Purista, o partido recusou todo tipo de apoio à candidatura presidencial de Lula. Agora, une-se em São Paulo a um candidato apoiado por Maluf.
Se Maluf está distanciado de Covas, o que dizer das milhas que o separam do PT? Numa lista dos dez principais adversários do petismo, Maluf provavelmente figuraria em primeiro lugar.
Referindo-se a Brizola, na campanha de 89, Lula disse que o líder do PDT seria capaz de "pisar no pescoço da mãe" para chegar à Presidência.
A julgar pelo comportamento de Covas e do próprio PT, há mais gente disposta a esmagar a jugular da progenitora para manter vivos os seus projetos políticos.
Entre os itens que compõem o patrimônio de um político está o da coerência. Ao aliar-se a Maluf, Covas perdeu parte da sua. É hoje, portanto, um político mais pobre.

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