São Paulo, sexta-feira, 11 de novembro de 1994
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O Rio e o mundo

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Não faz muito foi preso o cidadão considerado responsável pelo tráfico de drogas em um dos morros mais famosos do Rio de Janeiro. Levado para uma dependência policial, pediram-lhe algo em torno de US$ 40 mil para que fosse libertado.
Nem vendendo o carro, o rapaz conseguiria amealhar a cifra solicitada.
Tem-se aí uma evidência concreta de que o problema do crime organizado e de seu principal negócio, o narcotráfico, não está exatamente nos morros. Nestes, no pior dos casos, vivem apenas pequenos e médios empresários da droga e do crime.
Não é por isso que devem deixar de ser presos, mas é ilusório supor que se vai, de fato, pôr ordem na casa por meio de um punhado de operações nas favelas.
O problema do crime organizado é mundial e não apenas carioca. Quem acha que a ousadia da delinquência, no Rio, ultrapassou todos os limites deveria ver os teipes dos atentados contra dois juízes italianos envolvidos mais fortemente nos processos contra a Máfia. Impressiona não apenas pela ousadia, mas pelo nível de destruição produzido.
Desse ponto de vista, o presidente eleito Fernando Henrique Cardoso tem toda razão quando diz que o problema do narcotráfico (ou, na sua versão mais extensa, do crime organizado) passa pelo Rio, é claro, mas vai muito além dele.
Nasce, a rigor, nos remotos pontos dos Andes boliviano e peruano em que são cultivadas as folhas de coca, que, processadas, viram cocaína. E termina nos salões do mundo inteiro em que a cocaína é consumida, especialmente nos Estados Unidos e Europa, os maiores centros compradores.
Uma solução real, portanto, exige o envolvimento de todos os países, produtores, consumidores e pontos de passagem (o Brasil cai nestas duas últimas situações, pois é consumidor mas é principalmente ponto de trânsito).
Não é o caso de se menosprezar o esforço que se tenta montar no Rio, mas é importante não perder de vista que se trata de ação puramente emergencial que não vai resolver o problema.

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