São Paulo, domingo, 13 de novembro de 1994
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TCE suspeita de contrato do Projeto Tietê

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O TCE (Tribunal de Contas do Estado) colocou sob suspeita o contrato assinado entre o governo Fleury e um consórcio do qual participa a empresa Hidrobrasileira, de Sérgio Motta, secretário nacional do PSDB.
O consórcio é responsável pelo gerenciamento do Projeto Tietê –conjunto de obras e serviços do governo de São Paulo que tem como meta a despoluição do rio.
O valor inicial do contrato é de US$ 56 milhões. A Hidrobrasileira e mais um grupo de quatro empresas têm direito a uma porcentagem de 4% sobre tudo que for sendo gasto com o projeto. O orçamento inicial do projeto é de US$ 1,4 bilhão.
O conselheiro Antonio Roque Citadini, do TCE, questiona o fato de o contrato não definir de onde sairá o dinheiro para o pagamento ao consórcio.
"Da forma que foi feito, não há condição de aprovar esse negócio", disse Citadini à Folha.
Fonte pagadora
O conselheiro encaminhou ao governo do Estado e vai pedir também às empresas explicações sobre o contrato.
O TCE quer saber: 1) qual a fonte pagadora, já que o projeto envolve financiamento de instituições estrangeiras e vários órgãos do próprio governo estadual;
2) qual a necessidade de ter contratado o consórcio de empresas, uma vez que o governo possui órgãos que poderiam fazer o mesmo serviço, como a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de São Palo) e Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental).
Além da empresa de Motta, participam do consórcio as firmas Logos, Engea, Umah e Emger.
O Projeto Tietê, concebido com o objetivo de se tornar a principal realização do governador Luiz Antonio Fleury Filho (PMDB), tem sido alvo de várias acusações e polêmicas.
O mesmo TCE divulgou recentemente uma auditoria que constatou irregularidades nos contratos para o desassoreamento (retirada de lama) do rio.
A concorrência para este serviço –vencida pelas empresas Enterpa, Badra, OAS e Ebec– foi considerada irregular.
O edital (conjunto de regras de uma licitação) teria sido feito de uma maneira a facilitar a vitória dessas quatro empresas, de acordo com Roque Citadini.
Em agosto, a Folha revelou que o projeto do governo não havia apresentado resultado positivo até o momento.
O Tietê, segundo indicadores oficiais do próprio governo, estava mais poluído do que no final do governo Quércia, em 1990.
Bid
A principal fonte do financiamento do Projeto Tietê é o Bid (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que emprestou US$ 450 milhões ao Estado.
Quando o consórcio composto pela Hidrobrasileira venceu a concorrência pública para gerenciar o projeto, em 1992, os dirigentes do governo de São Paulo reagiram com entusiasmo.
O motivo de euforia do governo era a boa convivência de Sérgio Motta com o economista e também tucano Paulo Renato de Souza, que até o início deste ano era o gerente de Operações do Bid.
Souza e Motta integram o primeiro time de assessores do presidente eleito Fernando Henrique Cardoso.

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