São Paulo, domingo, 13 de novembro de 1994
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Urnas devem promover 'eleição da virada'

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O peemedebista gaúcho Antônio Britto recebeu, no primeiro turno, 2.211.270 votos. Com apenas mais 36.405 sufrágios (ou 0,81% dos votos válidos), estaria eleito governador no primeiro turno.
Britto ficou quase 700 mil votos à frente de Olívio Dutra (PT), seu principal adversário. Logo, vai ganhar com facilidade no segundo turno, certo?
Errado. Britto e Olívio Dutra chegam à reta final do pleito gaúcho praticamente empatados, conforme os dados do mais recente Datafolha. O peemedebista tem 45% das intenções de voto contra 44% do adversário petista.
Em muitas outras das 17 unidades da Federação que vão escolher seus governadores em 15 de novembro, repete-se essa situação em que um candidato que ficou muito perto de vencer já no primeiro turno corre o risco de não ganhar nem no segundo.
Em Minas Gerais, por exemplo, a inversão está sendo total. Hélio Costa (PP) ficou com 48,3% dos votos válidos, a 1,71 ponto percentual de definir o pleito no turno inicial.
PSDB virou em Minas
No segundo turno, no entanto, Eduardo Azeredo (PSDB), que havia recolhido apenas 27,2% dos votos válidos, leva uma vantagem substancial. Está nove pontos à frente, diz a mais recente pesquisa Datafolha.
O que aconteceu para que o segundo turno se tranformasse na eleição da virada?
"O baixo coeficiente de fidelidade pessoal e partidária dos eleitores leva a uma grande flutuação do eleitorado", supõe o cientista político Leôncio Martins Rodrigues, professor da Unicamp.
Leva também a uma grande influência do marketing político, acha Leôncio.
Se o eleitor não é fiel a um candidato ou partido, é natural que se deixe levar pela propaganda, que pode mudar muito entre um turno e outro.
Já José Álvaro Moisés, professor de ciência política da USP, vê nas mudanças uma indicação de que a dinâmica do segundo turno é inteiramente outra, como se fosse outra eleição.
Logo, os resultados do primeiro turno não servem de referência alguma para determinar as chances de cada qual na disputa final.
O caso do Rio Grande do Sul é ilustrativo a respeito da nova dinâmica, pelo menos a julgar pela avaliação do PT.
Tarso Genro, prefeito de Porto Alegre, suspeita que a virada de Olívio se deveu ao fato de que o próprio adversário (Britto) introduziu na campanha uma discussão sobre a eficácia ou não da administração petista em Porto Alegre.
"Para nós, ficou fácil comparar a bem sucedida experiência do PT em Porto Alegre com o fracasso do PMDB no governo do Estado", diz Tarso.
O Espírito Santo fornece outro exemplo de como uma dinâmica nova pode mudar o rumo, neste caso em detrimento do PT.
José Álvaro Moisés suspeita que a discussão sobre a segurança no Rio de Janeiro repercute intensamente no Espírito Santo, já que o Estado pertence, claramente, à zona de influência do Rio.
Consequência: cresceu o cacife do cabo Camata, cuja propaganda se assenta na questão da segurança. No primeiro turno, Camata ficara quase 20 pontos percentuais atrás do petista Vitor Buaiz.
Sucessão presidencial
Antônio Britto lembra outro fator que pode ter provocado alterações: o predomínimo, no turno inicial, do pleito presidencial.
"O eleitor não estava prestando atenção na eleição estadual", imagina o candidato do PMDB ao governo gaúcho.
Se for assim, é natural que, ao voltar-se mais para o pleito regional, o eleitor repense o quadro e mude muito de intenção de voto.
Por fim, menciona ainda Britto, há a dificuldade natural de o primeiro colocado aumentar muito o seu voto, já necessariamente elevado no primeiro turno.
"Para o Covas, é penoso subir de 52% para 53%, enquanto o Rossi pode saltar mais facilmente de 20% para 30 e poucos por cento", afirma o peemedebista ao citar o caso paulista como exemplo.
As pesquisas confirmam: Mário Covas (PSDB) fechou o primeiro turno com 46,84% dos votos válidos e, agora, ultrapassa pouco os 50%, o que significa um crescimento de cerca de seis pontos percentuais.
Já Francisco Rossi (PDT), que teve apenas 22,23% dos votos na primeira fase, saltou rapidamente uns 10 pontos percentuais.
Ou seja, mesmo em Estados em que as pesquisas apontam para a vitória de quem já fora o primeiro no turno inicial, a diferença em relação ao segundo colocado tende sempre a diminuir.

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