São Paulo, domingo, 13 de novembro de 1994
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Cresce 50% número de pobres na Argentina

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

O número de famílias pobres (renda familiar abaixo de US$ 700) cresceu cerca de 50% na Argentina nos últimos 14 anos.
Estimativas de consultores da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) argentina revelam que existe cerca de 1,5 milhão de famílias pobres no país.
O programa de estabilização da economia (chamado Plano Cavallo), implantado em abril de 91, criou uma nova categoria chamada pelos sociólogos argentinos de "novos pobres", que já somam 500 mil famílias em todo o país.
Eles são egressos da classe média e tinham renda familiar média de US$ 4.000, define Gabriel Kessler, professor de sociologia da Universidade de Buenos Aires e consultor da Unicef argentina.
Aposentados, professores, funcionários demitidos das estatais privatizadas, trabalhadores sem qualificação e comerciantes que faliram ao longo dos últimos três anos formam o perfil dos "novos pobres".
Para reduzir o déficit público, o ministro da Economia, Domingo Cavallo, segurou os reajustes das pensões dos aposentados.
O resultado dessa política é que 90% dos aposentados, ou seja, 2,8 milhões de pessoas, recebem uma pensão mensal inferior a US$ 500. Desse total, 854 mil aposentados têm uma pensão de apenas US$ 113.
A pensão de apenas US$ 113 corresponde a pouco mais de 20% da cesta básica argentina. Até agora, os aposentados são os únicos "novos pobres" que se mostram abertamente, fazendo protestos todas as quartas-feiras nas proximidades da Casa Rosada, sede do governo argentino.
Kessler e López, que brevemente lançam um livro sobre a pobreza argentina, concordam que "os novos pobres" fazem de tudo para conservar a aparência anterior de classe média.
Envelhecimento da frota de automóveis, queda na venda de telefones, cancelamento de cartões de crédito e saída dos planos privados de saúde são hábitos comuns entre os "novos pobres".
Entretanto, os "os novos pobres" argentinos têm uma vantagem sobre os brasileiros: a maioria tem casa própria, adquirida antes do processo de diminuição da classe média promovida pelo Plano Cavallo.
No interior é grave
Nos primeiros dois anos do programa de estabilização da Argentina, o efeito do fim da inflação conseguiu reduzir a pobreza, em um fenômeno semelhante ao que ocorre atualmente no Brasil.
Houve aumento do consumo de alimentos e artigos populares em geral.
Mas isso já dá sinais de esgotamento e as estatísticas voltam a indicar elevação da pobreza e do desemprego.
Os últimos dados oficiais do governo argentino revelam a existência de 1,5 milhão de desempregados no país, para um população economicamente ativa de 13,9 milhões de pessoas.
Dados do próprio Ministério da Economia indicam também que 2,9 milhões de pessoas que possuem emprego atualmente buscam por um novo trabalho.
A situação de pobreza é mais grave no interior do país.
O desemprego teria aumentado, avisa Néstor Lopez, responsável pelas estatísticas e monitoramento de dados da Unicef argentina, pela crise nas exportações de produtos agrícolas, como trigo e tabaco.

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