São Paulo, domingo, 13 de novembro de 1994
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Aposentado vence a bactéria

DO THE INDEPENDENT

O fato: No início de maio vários casos de fasciíte necrosante foram registrados em Gloucestershire. Trata-se de uma doença fatal, conhecida desde o século 18, que em questão de horas deteriora completamente o tecido do corpo humano, tornando-o gangrenoso.
A notícia se espalhou e os jornais lançaram uma busca frenética por sobreviventes da bactéria assassina.
O aposentado Ken Kruck, 51 anos, de Hayes, Middlesex, havia sobrevivido graças a seis cirurgias para interromper o avanço da doença, dois anos antes da notícia chegar às manchetes.
Ele era exatamente o personagem que os jornais estavam procurando.
Aspectos vendáveis: As primeiras fotos dos efeitos da fasciíte necrosante: as horrendas cicatrizes e os 400 pontos levados por Kruck em decorrência das amputações que sofreu.
Sua descrição dos assustadores sintomas.
Sua coragem e a sorte que teve em sobreviver, enquanto outras vítimas da doença no país inteiro morriam. Kruck só se salvou graças ao fato de o cirurgião Peter McDonald tê-lo visto, inteiramente por acaso, numa maca no hospital. McDonald conseguiu identificar os sintomas da fasciíte enquanto os outros médicos não sabiam do que se tratava.
Como chegou às primeiras páginas: Enquanto passava por sua provação Kruck manteve um diário, que está transformando num livro, The Uninvited Guest (O Hóspede Indesejado) com a ajuda de um ghost writer.
O livro é sobre a doença e sobre as experiências vividas com o susto por que passou.
Na época do surto de facsiíte deste ano, um amigo de Kruck entrou em contato com a imprensa em seu nome e ele foi entrevistado e fotografado em sua casa pelos tablóides Star e News of the World.
Para não prejudicar seus contratos exclusivos com os jornais, Kruck negou-se a ser entrevistado por oito redes de televisões diferentes.
Ele só concedeu entrevistas ao jornal de sua cidade depois que saíram as matérias nos tablóides.
Cobertura dos tablóides: O tom mais assustador foi dado pelo Star.
A batalha-pesadelo de Ken Kruck contra a super-bactéria comedora de carne humana começou quando ele sentiu cócegas na garganta. Minutos depois seu corpo ficou inchado e a bactéria assassina estava devorando seu corpo, dizia a reportagem.
Mas o jornal também deu indícios de esperança, a partir do milagre ambulante Kruck.
O News of the World contra-atacou com fotos cruentas dele antes das cirurgias plásticas e um relato ainda mais cruento, na primeira pessoa, de sua temporada no hospital.
Kruck foi pago? Sim –recebeu cerca de US$ 800 por cada jornal ( Tive que cuidar do assunto eu mesmo). O News of the World também escreveu favoravelmente sobre seu livro.
Consequências: Kruck apareceu em programas de entrevistas na TV em Nova York, voltou a jogar golfe, começou a estudar direito e enviou seu manuscrito às editoras. Algumas delas o qualificaram de excessivamente grotesco ou datado.
Ele diz estar assustado com a falta de conhecimento sobre a doença, na Grã-Bretanha, e de medidas tomadas, citando a célebre afirmação de Virginia Bottomley, secretária da Saúde, de que o surto não passou de incidente corriqueiro.
Kruck promete doar parte de seus direitos autorais ao hospital Mount Vernon, em Rickmansworth, onde foram realizadas algumas de suas cirurgias.

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