São Paulo, domingo, 13 de novembro de 1994
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Voto de protesto

A espetacular derrota sofrida pelo Partido Democrata e pelo presidente Bill Clinton nas eleições da última semana nos EUA reclamam uma análise mais detida. Os resultados parecem contrariar a velha noção de que o desempenho eleitoral segue a situação da economia.
O país de fato ostenta indicadores invejáveis mesmo para o Primeiro Mundo. O produto cresce, o desemprego cai (embora pouco) e a inflação continua baixa. Mas esses dados, que se contrapõem a juros em alta e dólar em queda, compõem apenas uma parte do quadro.
Embora os sucessos no Haiti e na intermediação da paz no Oriente Médio pareçam sobrepor-se ao fracasso da Somália, o front externo tem um peso apenas relativo. Bush perdeu apesar da Guerra do Golfo.
No âmbito político, o fenômeno geral da rejeição ao governo de turno nos EUA manifestou-se de forma concentrada, já que os democratas há décadas controlam o Congresso, símbolo de inércia e de mordomias. Não é por acaso que muitos Estados no país estão limitando a reeleição de parlamentares.
O caso específico de Clinton apresenta ainda um agravante à medida que sua eleição há dois anos foi marcada pela promessa de grandes mudanças. Realista ou não, essa expectativa foi frustrada. Sua principal proposta, a reforma do sistema de assistência médica, suscitou acirrada oposição mesmo no seu partido e acabou enterrada. Já o Nafta foi aprovado, mas é causa de profunda insegurança e o aumento de impostos, embora esperado, tampouco ajudou. Isso, é claro, além do caso Whitewater e das suspeitas não esclarecidas que cercam o primeiro casal e o torna alvo de graves desconfianças.
Imagem desgastada, sem maiores realizações, Clinton e os democratas não puderam fazer frente à vaga de mudancismo que assola o mundo. Quanto à economia, é como se nos EUA o crescimento fosse condição necessária, mas não suficente para um bom desempenho eleitoral de quem está no poder.

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