São Paulo, domingo, 13 de novembro de 1994
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O nosso melhor momento

MÁRIO COVAS

O Brasil, hoje, lembra um foguete na rampa de lançamento. Nos últimos anos, a sociedade construiu a plataforma, fez o foguete, estocou combustível e preparou a tripulação. A sequência de providências pode não ter sido planejada, mas aconteceu.
Basta lembrar de alguns fatos: no plano político, as CPIs do PC/Collor e do Orçamento; a sequência de ações iniciada com a posse de Fernando Henrique no Ministério da Fazenda e que terminou na adoção do real, passando pelo Plano Real e pela URV.
Desarticulados entre si, muitos acontecimentos desses últimos dois anos convergiram no sentido de recolocar o Brasil no mapa mundial das nações em florescimento.
Com moeda estável, já há sinais de investimento na produção; há crescente interesse de investidores estrangeiros; há aumento de consumo, seja de comida, seja de bens duráveis –o que significa novo impulso na roda do crescimento.
Há um mês e meio, com a eleição de Fernando Henrique Cardoso para a Presidência da República, o povo brasileiro tomou mais uma providência para o foguete decolar.
A escolha do roteiro de viagem foi clara: a opção por Fernando Henrique foi a opção por um plano de crescimento econômico, com moeda estável, economia aberta e investimentos sociais.
É nesse cenário que deve ser entendida a eleição para governador, nos Estados onde há segundo turno, entre eles São Paulo. Serão reduzidas as chances de sucesso do projeto nacional sem os apoios dos governadores dos Estados mais importantes, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.
Primeiro, porque não se conseguirá manter a estabilização da moeda e a inflação em nível baixo se os governos estaduais –fabricantes de déficits públicos e alimentadores da inflação– não estiverem engajados no programa econômico nacional.
Segundo, porque uma das causas do desperdício e da ineficiência estatal no Brasil é a sobreposição de tarefas e a falta de sintonia e cooperação entre as diversas instâncias de poder.
Mais do que nunca, a soma de São Paulo com o Brasil é essencial. Nos últimos anos, os governos de São Paulo tiveram políticas e atitudes que contrariam frontalmente o roteiro que se quer seguir. A começar pelo brutal déficit; pelo endividamento do Estado; pelos gastos inúteis com obras inacabadas; pelo desperdício em gigantescas verbas de publicidade.
São Paulo é também essencial ao projeto nacional pela sua força e seu potencial econômico. Aqui se produz quase a metade do Produto Interno Bruto brasileiro; aqui está a indústria de ponta; a pesquisa; a tecnologia –e, fundamental: aqui está o mais importante mercado consumidor brasileiro.
Não será possível ao Brasil dar seu salto de crescimento se o Estado de São Paulo não saltar junto. Melhor dizendo: São Paulo é quem vai impulsionar o resto do país em seu projeto de desenvolvimento.
É por essa razão que a população de São Paulo deve escolher seu futuro governador a partir da análise de seu programa de governo e de suas possibilidades de ajudar o Estado a inserir-se no projeto nacional.
Nos últimos oito meses e meio, mais de mil pessoas se envolveram na tarefa de ajudar a elaborar um programa de governo para São Paulo dos próximos quatro anos.
Chega a ser emocionante observar o empenho com que tanta gente se dispôs a contribuir. Professores universitários, técnicos, pesquisadores, sindicalistas, trabalhadores rurais –gente do povo, enfim.
E o que animava essas pessoas? Mais que pesquisar, discutir, ouvir, elaborar para finalmente escrever os fundamentos de um projeto, o impulso maior vinha da convicção de estar-se participando da construção de um novo país. O nome disso é patriotismo.
Por isso, fiquei triste ao saber que houve quem menosprezasse esse trabalho em conjunto. A crítica, injusta e oportunista, não atingiu a mim, mas a todos aqueles que deram de si o melhor, com a melhor e mais nobre das intenções. Mas... paciência.
Campanha eleitoral é, para alguns, um jogo de oportunidades que embaça a verdade e fere a razão. Felizmente, para outros é o momento maior do exercício da cidadania e uma forma concreta de dar um pouco de si para todos.
Mais do que a sintonia e a afinidade entre o futuro governador de São Paulo e o presidente Fernando Henrique, de resto benéficas, o que devemos buscar é a afinidade de projetos e propósitos. De políticas e de atitudes. De objetivos e critérios.
Estamos diante de uma oportunidade muito boa, histórica, para jogá-la fora pela eleição de projetos antagônicos, personalidades contrárias ou critérios opostos.
A hora é de somar São Paulo com o Brasil, não de opor São Paulo ao novo presidente. A hora não é de fechar para balanço, mas de abrir para o progresso.
Não há dúvida: o nosso melhor momento chegou. Juntos, o governador de São Paulo e o presidente do Brasil ajudam o povo a construir um novo país.

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