São Paulo, terça-feira, 15 de novembro de 1994
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Itamar sabia do acordo com petroleiros, afirma Pimentel

MÔNICA IZAGUIRRE LÉA DE LUCA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro do Trabalho, Marcelo Pimentel, disse ontem à Folha que tinha autorização do presidente Itamar Franco para negociar os pontos "substanciais" do acordo com os petroleiros, inclusive as perdas salariais do Plano Bresser.
Conforme Pimentel, o pagamento de parcelas referentes ao Plano Bresser foi um ajuste proposto pela própria Petrobrás para evitar nova greve dos petroleiros. Rever essa parte do acordo "seria pior", defende o ministro.
O pagamento de dois salários adicionais a título de reposição de perdas do Plano Bresser foi um dos pontos que mais causou indignação do ministro do Planejamento, Beni Veras, em relação ao acordo.
Por causa da reação negativa de Beni Veras (para ele o acordo contraria o Plano Real), Itamar discute amanhã com seus ministros a possibilidade de rever o acordo.
Pimentel disse que só se recusou a assinar a versão final do acordo porque ele incluiu muitos outros pontos que não foram negociados com a Petrobrás.
Além do Plano Bresser, o ministro do Trabalho diz que negociou só outros dois pontos: a renovação da garantia de emprego por mais um ano e a liberação do trabalho de cinco dirigentes sindicais, com manunteção de salário pela Petrobrás. O acordo final prevê liberação de 44.
O ministro das Minas e Energia, Delcídio Gomez, reconhece que é sua a responsabilidade por todo o resto das vantagens concedidas.
Ele justifica que tais vantagens são "perfumaria" que não fazia sentido a empresa negar.
"De fato, é perfumaria", reforça o ministro do Trabalho. Mesmo em relação ao Plano Bresser, ambos vão defender na reunião com o presidente que não há qualquer risco para o Plano Real porque nenhuma vantagem foi incorporada ao salário.
"Tecnicamente é possível reverter o acordo", disse Pimentel. Afinal, explica ele, a Petrobrás não chegou a assiná-lo. A questão, continua Pimentel, é saber se há ou não conveniência política na alteração.
Ontem, o ministro Beni Veras disse à Folha que tentaria ontem mesmo uma reunião com Ciro Gomes, da Fazenda, no Ceará. O ministro do Planejamento ia tentar convencer Ciro de que o acordo contraria o Plano Real.
Os petroleiros entraram em greve em setembro por um aumento de 116%. O TST julgou a greve abusiva, decidiu por um aumento salarial de 13,56% e permitiu a punição dos grevistas.
Os petroleiros se reuniram com Itamar em 6 de outubro e suspenderam a greve depois de o presidente ter feito algumas promessas, como a criação de comissão para discutir passivos trabalhistas.
A Petrobrás não cumpriu o acordo acertado com Itamar e, por isso, os petroleiros marcaram nova greve para 10 de novembro. O novo acordo foi assinado só pelo ministro das Minas e Energia.

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