São Paulo, terça-feira, 15 de novembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Covas consegue controlar mau-humor

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Dono de um temperamento explosivo, Mário Covas tentou mudar seu comportamento nesta campanha eleitoral. Melhorou seu relacionamento principalmente com os companheiros de partido.
Ao contrário de outras disputas eleitorais, quando esbanjava mau-humor, Covas fez de tudo para enfrentar as dificuldades de campanha sem se indispor com os colegas. Conseguiu em parte.
Segundo seus assessores, Covas melhorou de forma significativa seu relacionamento com outras estrelas do partido -entre elas, Fernando Henrique Cardoso e José Serra.
Armistício
Apesar de terem deixado juntos o PMDB para fundar o PSDB, Covas nunca se entendeu com FHC e Serra. O relacionamento só melhorou nesta campanha eleitoral. Covas até já chama FHC de "timoneiro".
Para os covistas, o armistício partiu de Covas. No início da campanha, FHC amargava resultados negativos nas pesquisas, enquanto Covas disparava à frente da disputa pelo governo paulista.
Os covistas lembram que o candidato a governador sempre fez questão de acompanhar FHC em suas visitas ao interior do Estado. Para quem conhece o temperamento dos dois, FHC contribuiu muito para que o gelo entre os dois fosse quebrado.
No caso de Serra, Covas não fazia questão de esconder sua antipatia. Era comum a troca de farpa entre os dois nas colunas de jornais. Mas o relacionamento dos dois também melhorou nesta campanha.
O maior estremecimento de Covas com seus companheiros tucanos de São Paulo ocorreu quando Fernando Collor convidou o PSDB para integrar seu governo.
Ao contrário de FHC, Covas discordou do convite e ameaçou implodir o partido. Os atritos envolveram ainda os tucanos cearenses Ciro Gomes e Tasso Jereissati, que também defendiam a adesão a Collor.
Covas afirma que terá um relacionamento formal com FHC. "Eu vou tratá-lo por presidente e ele vai me tratar por governador."
Mau-humor
Na quarta-feira da semana passada, o piloto do avião que levava Mário Covas a São José do Rio Preto (451 km a noroeste de São Paulo) se confundiu e pousou em Catanduva, 66 km antes.
Foi o suficiente para que o senador voltasse a ter reações de campanhas anteriores. Irado, gritou com o piloto e com os assessores que o acompanhavam.
O episódio serviu para definir o comportamento do tucano nesta campanha. Com mais disposição e vontade do que em disputas anteriores, ele melhorou seu relacionamento com os políticos.
Mas seu comportamento com assessores é praticamente o mesmo. Dependendo da situação, Covas chega a ser mal-educado com as pessoas que trabalham com ele.
Sebastião Farias, seu secretário particular, é o principal alvo do mau humor do tucano. Os repórteres que acompanharam sua campanha viram muitas vezes o candidato gritar com seu assessor.
O humor de Covas varia de acordo com a situação que enfrenta. Detesta, por exemplo, tapinha nas costas e repórteres. Seu mau-humor aumenta quando é questionado sobre temas considerados desagradáveis.
Nesta campanha, o tema que mais o contrariava era seu envolvimento com a Tejofran -empresa acusada de intermediar recursos para seus gastos eleitorais. Perguntas sobre o apoio de Paulo Maluf também o incomodavam.
O candidato também mantém certo comportamento considerado desagradável por colegas de partido. Ao participar de comícios com FHC, no primeiro turno, se retirava do palanque e deixava o candidato a presidente falando sozinho.
Um desses episódios ocorreu em Presidente Prudente (558 km a oeste de São Paulo). Covas fez um longo discurso, de quase uma hora. FHC e os outros tucanos esperaram pacientemente que ele acabasse de falar.
Encerrado seu discurso, Covas alegou ter compromissos em São Paulo e se retirou. Uma hora depois, quando o comício terminou, o candidato continuava no aeroporto de Prudente, conversando animadamente com correligionários.

Texto Anterior: FHC ganha 2º turno mesmo sem concorrer
Próximo Texto: Costa diz haver uso da máquina
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.