São Paulo, terça-feira, 15 de novembro de 1994
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FHC ganha 2º turno mesmo sem concorrer

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

No encontro que mantiveram logo depois que o presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, retornou da viagem à Europa, o deputado Antônio Britto, candidato do PMDB ao governo gaúcho, fez uma previsão cor-de-rosa a respeito do desfecho do segundo turno:
"Será a tua segunda vitória", disse Britto ao presidente eleito.
A avaliação partia do pressuposto de que a esmagadora maioria dos governadores já eleitos no primeiro turno ou a serem eleitos agora tinha "muita afinidade" com o futuro presidente.
Avaliação hoje muito mais reforçada, pois as pesquisas indicam que o partido de FHC (PSDB) tem grandes chances de eleger os governadores dos três principais Estados (São Paulo, Minas e Rio).
É verdade que Britto fazia sua análise com base na expectativa de sua própria vitória no Rio Grande do Sul, hoje uma incógnita.
Mas, ainda que o ganhador no RS seja o petista Olívio Dutra, permanece de pé a certeza de que FHC não terá, a rigor, oposicionistas no comando dos principais Executivos estaduais.
Afinal, Olívio pertence à ala do PT tida como mais moderada e inclinada a dialogar com boa vontade com o governo FHC.
Mesmo nos demais Estados, a tendência, até de governadores de partidos teoricamente de oposição a FHC, é para a acomodação.
Como em 86
Não chega, de todo modo, a ser uma situação inédita: em 1986, o PMDB elegeu os governadores de todos os Estados, exceto Sergipe (eram 22 à época).
O presidente da República, José Sarney, também era nominalmente do PMDB, partido que, ainda por cima, obteve a maioria absoluta igualmente na Câmara e Senado.
Nem por isso Sarney governou com tranquilidade. Na prática, os governadores apoiavam o presidente quando lhes convinha e não porque pertenciam todos ao mesmo partido.
Ônus
FHC conta com a afinidade dos governadores para tornar mais fácil a aprovação de uma de suas principais reformas constitucionais, a que redistribui funções entre União, Estados e municípios.
Pelos cálculos do presidente eleito, só há encargos a redistribuir, dado que a Constituição de 1988 já transferiu renda para Estados e municípios.
Governadores hostis ao presidente oporiam obstáculos a uma transferência da qual só recebem os ônus e não os bônus.
Fator 98
Mas a afinidade dos governadores com o presidente pode mostrar-se ilusória, em consequência de um dado histórico: com a exceção de FHC, todos os civis que foram eleitos presidentes passaram antes por um governo estadual.
O único não-governador (ou presidente do Estado, na denominação anterior à revolução de 30) foi Epitácio Pessoa, de qualquer forma coordenador da "política de governadores" da época (1898).
É natural, portanto, que os governadores da safra 94 estejam, desde o início de seus mandatos, de olho no pleito presidencial de 98, ainda mais se persistir a proibição de reeleição do presidente.
Tasso
Se prevalecer o paralelismo com o passado, Tasso Jereissati, já eleito governador do Ceará, tem todas as condições de ser o Epitácio Pessoa versão 98.
Primeiro, porque ele será o coordenador da política de governadores em nome do presidente, conforme a Folha apurou junto ao comando da campanha de FHC.
Segundo, porque, de todos os "tucanos", é o de maior afinidade com Fernando Henrique.
Mas os governadores de São Paulo, do Rio e de Minas tornam-se presidenciáveis por definição, sejam quais forem. O peso político e econômico desses Estados dá a seus governadores uma importância política que supera eventuais limitações pessoais ou políticas de cada qual.
Grifes pessoais
Mario Covas, líder folgado nas pesquisas em São Paulo, cuida, desde já, de afastar a hipótese de ser candidato. "Já tive a minha vez", avisa, em alusão ao fato de ter disputado e perdido a Presidência em 1989.
Fora do grande eixo político-econômico do país, há o que nos meios políticos se está chamando de "grifes" pessoais.
Casos do próprio Britto, se vencer, e de Jaime Lerner (PDT), já eleito no Paraná no turno inicial.
Os dois figuraram na relação de presidenciáveis em potencial para 94. Lerner, pela vitória cômoda no primeiro turno no sexto maior colégio eleitoral, voltará inevitavelmente a ela.
Britto, como é óbvio, depende da vitória sobre Olívio Dutra.
Os exemplos do passado recente são poderosos: um presidente que terminou o mandato envolvido na mais absoluta impopularidade, como Sarney, sequer teve condições de ter candidato à sua sucessão.
Já um presidente subitamente beneficiado pela popularidade decorrente da estabilização da economia (Itamar Franco) conseguiu a proeza de ter candidato e ainda vê-lo vitorioso já no turno inicial.
Fica nítido, portanto, que as afinidades antevistas em 1994 tendem a desaparecer tão logo 1998 se torne mais próximo no horizonte eleitoral.

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