São Paulo, terça-feira, 15 de novembro de 1994
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Os avanços do Mercosul

Os avanços do Mercosul
Os últim

LUÍS NASSIF

Os últimos avanços do Mercosul fizeram com que a diplomacia brasileira não caiba mais em si. Frasista incorrigível, e um dos grandes talentos atuais do Itamaraty, o embaixador brasileiro na Argentina, Marcos Azambuja, explica a razão do sucesso: foi a primeira grande idéia latino-americana que nasceu antes do prédio e da burocracia. A Aladi (antecessora do Mercosul) começou com um edifício e terminou com uma implosão.
Azambuja reconhece que em quatro anos, os maiores avanços do Mercosul ocorreram através de vínculos informais entre empresários dos quatro países –Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Mas atribui à pressa em se implantar o Mercosul –muitas vezes criticada pela coluna– a sabedoria de reconhecer que em política os lances tem ser que velozes para ímpeto que não se percam.
Na opinião de Azambuja, foi a premência imposta pelo Mercosul que induziu os países a procederem a reformas que, sem prazos e pretextos, seriam realizadas de forma muito mais lenta. Ele credita aos prazos do Mercosul a modernização das políticas tarifárias, a abertura dos portos e a simplificação de procedimentos comerciais nesses quatro países. Há aí uma certa supervalorização da obra.
Azambuja considera a escolha da tarifa externa comum o grande cimento do Mercosul. Zonas de livre comércio são intrinsecamente frouxas, diz ele. Falta a argamassa que só uma tarifa externa comum dá. Em vez de tratar de assuntos complicados, como movimentos de capital, de mão-de-obra, transferência de tecnologia, diz ele, concentrou-se em comércio.
Anos promissores
Azambuja vê os próximos anos como promissores para o Mercosul. O Nafta (tratado de livre comércio entre Estados Unidos, Canadá e México) parou e o governo Clinton perdeu espaço político para ampliá-lo.
Sem o Nafta, o Chile será cada vez mais atraído para o Mercosul, que criou área de livre comércio e união aduaneira de US$ 1 trilhão de PIB, 11 milhões km, que é 14% da superfície do planeta.
Azambuja não nega dificuldades da seguinte ordem:
O ritmo acentuado da abertura expôs a fragilidade de alguns segmentos industriais, especialmente na Argentina, cujo setor privado não tem acompanhado a velocidade de modernização do Estado.
Além disso, as fronteiras continuam sendo obstáculos, com problemas de burocracia alfandegária e sistemas viários com poucas coronárias, uma ou duas pontes ligando os países.
Não há ainda união aduaneira completa e acabada, já que cada países poderá estipular uma relação de 300 exceções na lista dos 8.500 produtos passíveis de tarifas comuns. E existe ainda grande alienação da parte de universidades e sindicatos.

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