São Paulo, quarta-feira, 16 de novembro de 1994
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Ciro admite pressão para deixar governo

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

O ministro da Fazenda, Ciro Gomes, afirmou ontem em Fortaleza que na última semana aumentaram as pressões para que ele deixasse o governo.
"As pressões que estou sofrendo não me abatem. Estou treinado com três anos de seca", declarou.
Apesar das pressões que diz estar sofrendo, inerentes ao cargo, segundo ele, o ministro Ciro Gomes afirmou que seria "uma honra" participar do governo de Fernando Henrique Cardoso.
"Para qualquer brasileiro é uma honra muito especial ajudar o Fernando Henrique a governar. Certamente será um governo histórico", afirmou.
O ministro disse que não recebeu nenhum convite de Fernando Henrique Cardoso para permanecer no cargo ou mesmo para ocupar outro ministério.
Também afirmou que não está demovido de seu projeto de passar o próximo ano estudando nos Estados Unidos, junto com a mulher e seus filhos.
Ainda em referência às pressões, o ministro preferiu não identificar seus autores. Desenvolveu raciocínio de que as mudanças impostas na economia do país estavam "incomodando e deixando inseguros os agentes econômicos, sindicatos e as pessoas".
"Estamos mudando a economia do Brasil paradigmaticamente. O Estado deixará de ter a ilusão mistificadora da função de super poder regulador", afirmou.
Segundo ele, o modelo de Brasil exportador acabou. "Se você manda embora os produtos e o dinheiro fica, você tem a nação inteira trabalhando para fazer saldo comercial. Hoje nós queremos que as pessoas tenham consumo. É preciso que saibam que esse parâmetro mudou".
Para Ciro Gomes, as pressões só acabarão quando todos estiverem "acostumados" com a nova realidade econômica. Ele afirmou que qualquer que seja o ministro da Fazenda, será pressionado para implantar as mudanças.
"O Ricupero (Rubens, ex-ministro da Fazenda) foi porque era diplomata demais. Eu sou porque falo grosseiro. O próximo vai ser porque não fala. A solução é o costume, porque não há como barrar as mudanças."
Ciro Gomes disse que não está em crise com a equipe econômica, com o presidente Itamar Franco e com o presidente eleito Fernando Henrique Cardoso. "Melhor não poderia ser. Tenho o carinho dos dois (Itamar, FHC)", afirmou.
Para ilustrar seu bom relacionamnto com Itamar e FHC, Ciro Gomes contou que na semana passada, quando os jornais publicaram que FHC anunciaria antecipadamente seu ministro da Fazenda, ele foi procurado pelos dois para desmentir a notícia.
"Preferi não desmentir, apenas me afastei. Vendo tudo de longe, hoje tenho toda a história fechada", afirmou, sem revelar o que apurou em suas conversas naquele período.
O governo de FHC, segundo afirmou Ciro Gomes, fará uma "mudança cultural profunda" no país.
"O governo de FHC combaterá a desvalorização do trabalho, a tolerância e a exaltação da especulação e da esperteza", afirmou.
O ministro concedeu a entrevista na manhã de ontem na varanda de sua casa, em Fortaleza. Ele estava de bermuda e camiseta se preparando para ir à praia com a mulher e os três filhos.

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