São Paulo, quarta-feira, 16 de novembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Rossi chora e se diz vítima do poder

CARLOS MAGNO DE NARDI; AMÉRICO MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Poucos minutos antes de votar, o pedetista Francisco Rossi disse ter sido vítima do poder econômico que se uniu contra sua candidatura na sucessão em São Paulo.
Para comentar o confronto, Rossi voltou a se inspirar na religião. "Foi uma luta desigual como David e Golias. Eu enfrentei toda a elite que se uniu em uma estrutura milionária ao lado do meu adversário (Mário Covas)".
Em nenhum momento ele admitiu a derrota. "Só vou comentar o resultado da eleição depois da apuração oficial".
Durante a primeira entrevista coletiva que concedeu ontem, Rossi chorou ao comentar a publicação de um jornal pelo Comitê Suprapartidário Pró-Covas de Osasco.
O jornal trazia críticas à administração de Rossi na Prefeitura de Osasco (89 a 93), como o confronto com os sem-teto durante invasão de terras públicas, a construção de uma suposta entidade "fantasma" e seu apoio a Fernando Collor de Mello em 89.
"Fui muito agredido por pessoas que tentam dizer a todo custo que sou um ladrão, um bandido. Essas coisas machucam a gente."
O jornal, com 10 mil exemplares, foi distribuído durante a madrugada em Osasco.
Irritado, Rossi convocou sua assessoria e pediu a abertura de um boletim de ocorrência para tentar caracterizar crime eleitoral e difamação.
O presidente do PSDB na cidade, Antonio Carlos Roxo, admitiu a produção do material mas negou o objetivo de difamar o candidato do PDT.
Na opinião do pedetista, Covas falhou ao permitir a impressão do jornal.
"Publicações como essa, na medida em que o candidato (Covas) toma conhecimento disso e não toma providências, demonstram um traço de caráter que deixa dúvidas."
Na sua opinião, a campanha publicitária do tucano, as "falsas" pesquisas de intenção de voto e os apoios a Covas demonstram que o poder econômico se uniu contra ele.
Segundo Rossi, todas as pesquisas de opinião foram manipuladas, atendendo a interesses financeiros e políticos. "Vou desmascarar todos esses institutos no final da apuração."
O candidato também criticou o Datafolha. "Tenho muito respeito por esse instituto mas ocorreram falhas de metodologia", disse sem esclarecer quais seriam esses erros. Em entrevista à Folha em 21 de outubro, o pedetista havia dito que "os únicos resultados sérios" de pesquisas eleitorais eram do Datafolha.
Para Rossi, "os institutos de pesquisa estiveram a serviço da candidatura de Mário Covas".
O pedetista disse que pesquisa feita por seus assessores, "um levantamento sério", mostra sua vitória sobre Covas por uma diferença de 300 mil votos.
"Tem que haver um limite para a divulgação de pesquisas porque isso induz o eleitor", afirmou.
O pedetista disse que, na medida em que as pesquisas eram divulgadas, diminuíam as doações para sua campanha. Rossi diz ter gasto R$ 1,5 milhão nos dois turnos da eleição estadual.
Depoimento
Para demonstrar o que chama de abuso econômico e irregularidades eleitorais, Rossi disse que pretende escrever um livro sobre as eleições deste ano.
"Quero escrever para motivar a Justiça eleitoral a ficar mais atenta sobre esses abusos."
Durante todo o dia, Rossi voltou a usar discursos atrelados à religião. Repetiu que "Deus está agindo e vai nos dar a vitória."

Texto Anterior: Lula diz que agora é um 'cidadão comum'
Próximo Texto: DIA DO CANDIDATO
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.