São Paulo, quarta-feira, 16 de novembro de 1994
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Sarney faz propaganda para Roseana

XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS

A candidata do PFL, Roseana Sarney, foi beneficiada ontem, em pleno horário da votação, com propaganda eleitoral de emissoras de rádio aliadas do grupo do seu pai, o ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP).
A rádio Timbira, de São Luís, pertencente ao governo estadual, anunciava, por volta das 11h, que Roseana estava "consagrada" como governadora eleita do Maranhão. Esse tipo de propaganda é proibida pela legislação.
Roseana disputou com Epitácio Cafeteira, do PPR, o segundo turno das eleições do Estado, onde o resultado era imprevisível até o início da noite de ontem.
Para tentar ajudar a candidata do PFL, o grupo político do senador Sarney montou um esquema que conseguiu esticar a propaganda eleitoral gratuita além do limite permitido pela lei, que foi a noite do último sábado.
Anteontem, véspera da eleição, o telejornal da TV Mirante (retransmissora da Rede Globo), que pertence à família Sarney, repetiu cenas e acusações que haviam sido feitas contra Cafeiteira no programa gratuito de Roseana.
O grupo Sarney domina uma rede de 12 emissoras de televisão e 30 emissoras de rádio.
A maioria dessas emissoras promoveu na noite de anteontem várias edições extras dos seus telejornais para anunciar que as pesquisas apontavam vantagem para Roseana contra Cafeteira.
Ontem, assessores de Cafeteira divulgaram uma fita de vídeo, com um depoimento de Sarney, que teria sido veiculada por intermédio de "tevês piratas" em municípios do interior onde não chegam os sinais das emissoras do grupo sarneyzista.
A fita teria sido captada nas cidades onde as imagens de TV chegam apenas por antenas parabólicas instaladas pelas prefeituras para servir à população.
Sarney teria aparecido aos eleitores momentos antes do "Jornal Nacional".
Os assessores do ex-presidente negam que ele tenha utilizado este recurso.
No momento em que votaram, na manhã de ontem, tanto Cafeteira quanto Roseana alardeavam a vitória. Pesquisas de boca-de-urna divulgadas no final da tarde, no entanto, deixaram Sarney e a sua filha apreensivos.
Estava em jogo na eleiçao 30 anos de domínio político da família do ex-presidente no Maranhão. "Ele (Sarney) pode chorar a derrota", dizia Cafeteira. "O povo do Maranhão está conosco", propagava Roseana.
Além perder o contole da política maranhense, uma eventual derrota de Roseana significaria para Sarney também a redução do seu poder nacional.
O ex-presidente é um dos candidatos à presidência do Senado e um insucesso eleitoral na sua terra poderia atrapalhar seus planos.
Sarney votou ontem pela manhã no Amapá. À tarde, estava de volta a São Luís.
Para tentar interromper o ciclo de poder de Sarney, Cafeteira também desrespeitou a legislação eleitoral, ao fornecer transporte para os eleitores de São Luís e do interior.
O Maranhão registrou, na diputa do primeiro turno, um dos maiores índices de abstenção do país, com 32% dos eleitores deixando de votar. Por este motivo, Cafeteira apostou no fornecimento de transportes como uma forma de fazer com que as pessoas comparecessem às urnas.

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