São Paulo, quarta-feira, 16 de novembro de 1994
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Entusiasmo dá lugar à apatia nas ruas de SP

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Caso os eleitores e os candidatos finalistas tivessem deliberadamente se esforçado para camuflar a existência de uma eleição, não teria sido outra a aparência do segundo turno, ontem em São Paulo.
Sem bandeiras ou boca-de-urna, santinhos ou mobilização militante, a cidade transpirava o clima indolente de qualquer feriado alheio ao calendário eleitoral.
"Trabalho nesse ponto há sete eleições. Minha média era de 600 a 700 hot-dogs. Duvido que hoje consiga vender mais que 350", dizia Marcos Dias, às 9h30, diante do Colégio Luís de Camões, no Jardim Paulistano (zona oeste).
Duas horas depois, do outro lado de São Paulo, em frente à Escola Estadual Ascendino Reis, no Tatuapé (zona leste), não era outra a previsão de Terezinha Lobato.
"Em eleição, dava para vender uns 300 pastéis. Agora, devo vender menos da metade", afirmou.
Os dois ambulantes têm um bom termômetro para calcular a apatia urbana. Os locais de votação nada tinham de festa política, e com isso o segundo turno para governador se assemelhou à frieza rotineira das eleições em países como França, Itália ou EUA.
A Folha rodou 74 quilômetros pela cidade. Eram raríssimas as bandeiras empunhadas por voluntários da militância ou mercenários das campanhas.
Na Vila Mariana, na esquina da Domingos de Moraes com Loefgreen, três gatos pingados do PSDB, que não quiseram se identificar, agitavam duas bandeiras de Mário Covas e distribuíam discretamente adesivos.
Outros pontos da cidade, que habitualmente registravam certa ebulição na hora do voto, tornaram-se desertos enfadonhos. Nenhuma agitação de bandeira na avenida Paulista ou no Ibirapuera, junto ao Monumento das Bandeiras, nas avenidas Penha de França ou Aricanduva, na zona leste.
Rua Cristovam Lins, na Vila Izolina Mazzei, zona norte: a pracinha arborizada diante da Escola Estadual de Segundo Grau Gonçalves Dias parece um estacionamento de velório no interior.
Os carros chegam silenciosos, seus ocupantes entram circunspectos e voltam enfadados.
Estação Tatuapé do metrô. O chão está coberto de impressos com a inscrição "É agora!". Nem Covas nem Francisco Rossi. Apenas um novo lançamento imobiliário, com dois quartos e garagem.
No Cambuci, Boris Barbosa, 53, é uma exceção. Decorou seu fusquinha com cartazes de Rossi e, com camiseta do São Paulo Futebol Clube, faz sua festa solitária. Motorista particular, pai de três filhas, trabalhou por oito anos em Osasco e diz que admira o finalista do PDT.

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