São Paulo, quarta-feira, 16 de novembro de 1994
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O medo vai esvaziar dois bons clássicos

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O fantasma da violência continua assombrando nossos estádios. E é o medo dessas assombrações que espanta o torcedor comum, aquele que apenas ama o futebol jogado, o escudo e as cores de seu clube; compraz-se com a desdita de seu adversário, mas não o odeia até a morte.
Então, tivemos um Corinthians e Palmeiras, no último domingo, digno de um público de mais de 100 mil espectadores, visto por cerca de um quinto dessa estimativa.
Hoje e amanhã, a dose deverá se repetir. Afinal, por razões de segurança, o Santos e Corinthians, que deveria ser na Vila, transferiu-se para o Pacaembu, esta noite. E Palmeiras e Portuguesa se enfrentam amanhã, pasmem, no Canindé.
O Corinthians vem de uma derrota humilhante diante do seu maior rival. O Santos vive a euforia de um súbito renascimento. É jogo pra sair faísca, embora os corintianos saibam que já estão classificados. Mas nada como descontar no Santos a humilhação sofrida na véspera.
Logo, quem tiver um pingo de juízo não se abalará ao estádio, quase que eu digo cemitério. É bem verdade que as autoridades policiais, agora, estão atentas. Tanto que, no domingo, tudo correu dentro dos conformes. Mas, pelo sim, pelo não...
Por outro lado, o jogo em si deverá ganhar em qualidade, mudando-se da esburacada Vila para o gramado bem cuidado do Pacaembu: a bola haverá de rolar macia, ao gosto do talento de um Neto, um Marcelinho, um Souza e poucos mais.
Já amanhã, no Canindé, o Palmeiras, que, ao ser encostado na parede, mostrou a que veio, corre sério risco de voltar a flertar com a crise. Isso porque pode vir a ser novamente vítima de seu desfastio, diante de uma Lusa embalada, cheia de moral e bem conduzida por Candinho.
O que quero dizer é que o Canindé será pequeno demais para a Mancha Verde, os Leões da Fabulosa e ainda por cima o torcedor comum. Rezemos, pois.

E o tricolor, hein? Joga esta noite contra o Grêmio, com quem cruzou duas vezes recentemente, pela Conmebol (êta nominho sem-vergonha). Com os reservas, o tricolor teve dois empates e classificou-se nos pênaltis. Já pensaram se entra em campo com os titulares e perde?

O que dizer a Gérson, o Canhota de Ouro, num instante de tamanha dor? Que a vida continua; que ainda há mais dois tesouros para ele cuidar; que os amigos precisam dele; que o futebol, a quem ele deu tanto, tanto dele precisa ainda? Nada. Só resta mandar um abraço, forte, apertado, solidário. Um abraço de pai.

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