São Paulo, quarta-feira, 16 de novembro de 1994
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"Migrações" expõe diálogo artístico entre Brasil e Suíça

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

Qual poderia ser o elo de ligação entre a produção artística contemporânea suíça e brasileira? As zonas de intersecção estética não são óbvias.
Mas, com a megaexposição "Migrações", que abre amanhã no MIS (Museu da Imagem e do Som), a artista brasileira Fabiana de Barros, residente em Genebra há dez anos, pretende esquadrinhar uma frutífera conexão, estabelecida em forma de diálogos entre artistas jovens dos dois países, atuantes em várias mídias.
Há pintura, instalação, outdoor, cenografia, fotografia, cinema, vídeo. Tudo distribuído por três museus da cidade: Masp (Museu de Arte de São Paulo), MAC (Museu de Arte Contemporânea) e MIS.
"Migração não é necessariamente imigração ou emigração. Lembra um movimento de vai-e-vem, como no caso dos pássaros. É nesse sentido de fluxo entre os países que a mostra se organiza", explica a artista-curadora.
Essa proposta atual tem um quê de revivalismo. Fabiana de Barros queria construir uma ponte entre o que acontece hoje e o que ocorreu em dois momentos pontuais da história. Momentos em que o Brasil e a Suíça tiveram um grande casamento artístico.
Um desses momentos foi 1924, quando o poeta suíço Blaise Cendras chegou a Santos e foi barrado no porto por causa de sua deficiência física. Mutilado na Primeira Guerra, Cendras quase não pôde aqui ficar. Mas, graças a Oswald de Andrade, Graça Aranha e Mário de Andrade, ele permaneceu um ano no Brasil.
O poeta integrou-se aos modernistas brasileiros e aderiu à antropofagia. Fez poemas para obras de Tarsila do Amaral e profundos ensaios sobre o Aleijadinho.
Outro momento foi 1949, época da 1ª Bienal de São Paulo. O artista suíço Max Bill participou da mostra e influenciou definitivamente o movimento concretista brasileiro, corporificado na obra de Charoux, Geraldo de Barros, Waldemar Cordeiro, Ferreira Gullar, Augusto e Haroldo de Campos dos anos 50.
Agora, Fabiana de Barros enxerga um triângulo de influências entre seu trabalho e o das artistas suíças Catherine Pier Favre e Katharina Kreil.
"Migrações" levou dois anos para tomar forma definitiva. Com patrocínio de várias instituições suíças e permutas com empresas brasileiras, a mostra custou US$ 160 mil.

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