São Paulo, quarta-feira, 16 de novembro de 1994
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Coreógrafa brasileira estréia opereta em Paris

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Festival de Outono de Paris, que começou no último dia 27 de setembro e vai até o final de dezembro, apresenta a partir de hoje a Cia. Castafiore, dirigida pela bailarina e coreógrafa brasileira Márcia Barcellos e o músico francês Karl Biscuit.
Paulistana, 34, Márcia é uma das três atrações de dança do festival, que também reúne artistas de teatro, música, cinema e artes plásticas. Os demais coreógrafos participantes da mostra são a norte-americana Trisha Brown, pioneira pós-moderna que vem a São Paulo em dezembro, e Daniel Larrieu, um dos talentos da nova dança francesa.
Bem-conceituada na Europa, onde mora desde 1979, Márcia desenvolve uma linguagem original, marcada principalmente pelo humor e o "nonsense". Seus espetáculos também apresentam uma cenografia primorosa, resultado das experiências com o coreógrafo norte-americano Alwin Nikolais e os franceses Régine Chopinot e Philippe Decouflé, com os quais trabalhou.
Em entrevista à Folha, por telefone, Márcia salientou que foi em São Paulo, com a professora de dança clássica Halina Biernacka, que adquiriu qualidades como disciplina, rigor e profissionalismo.
Depois, com Nikolais, que formou o Centre National de Danse Contemporaine na França, ela aprendeu a pensar a dança em termos de espaço, dinâmica e forma.
"Nikolais ampliou minha dimensão cinética, me sensibilizando para a integração de todos os elementos plásticos", diz Márcia, que, depois de atuar três anos com o mago da dança moderna americana, fundou o grupo Lolita.
Com o Lolita, Márcia se apresentou no Brasil em 1981 (no 3º Festival de Teatro promovido por Ruth Escobar), 1983 e 1989. Uma nova etapa se iniciou quando conheceu em Bruxelas o músico Karl Biscuit, com quem fundou há quatro anos o Castafiore, grupo cujo nome vem da cantora de ópera das histórias em quadrinhos do personagem Tin Tin.
"O Castafiore desenvolve uma relação muito singular entre gesto e som", explica Márcia. "Para coreografar, me inspiro em gestos cotidianos, fazendo uma espécie de alegoria das atitudes humanas."
Às amostras sonoras que Biscuit cria por computador, Márcia integra um teatro dançado cuja dinâmica se situa entre os desenhos animados e as histórias em quadrinhos.
No festival de Paris, Márcia e Biscuit estréiam "Tropinamburg 150", opereta sinistra em dois atos, em que vozes de cantores eruditos se misturam a um som caótico gerado por samplers.

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