São Paulo, quarta-feira, 16 de novembro de 1994
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Livro traz segredos de alcova

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

O tom de "Eles e Eu" é de alcova. Não há grandes contribuições para o que já se sabe em relação à história da bossa nova. Esse papel o jornalista fez quando prestou informações ao colega Ruy Castro, que publicou em 1990 o livro "Chega de Saudade", história do movimento.
As informações se repetem nas memórias de Bôscoli. Os episódios do encontro da primeira turma da bossa no bar Villarino e da academia de violão que fundou com Carlos Lyra foram aproveitados por Castro.
As novidades vêm da intimidade do autor. Revela, por exemplo, que uma de suas mágoas é de nunca ter composto em parceria com Tom Jobim: "Vinicius era profundamente ciumento, além de ser meu cunhado na época".
Narra como foi ventríloquo de João Gilberto num assédio a Elza Soares. "Eu tinha que cantar a Elza pra ele e convencê-la a esperar por ele na cama, debaixo das cobertas, já despida, com a luz apagada". João conseguiu e, segundo Bôscoli, comentou no dia seguinte: "Puxa, Ronga. Que mulher maravilhosa!"
As mulheres compõem a melhor parte da obra. Com naturalidade, revela como possuiu Nara Leão nos "tapetes maravilhosos" do famoso apartamento da "musa da bossa". "Sempre ficou claro que Nara não era mais uma mulher com quem eu estava transando, mas aquela com quem eu iria me casar um dia."
A relação com Maysa, uma alcóolatra inveterada, mereceu um capítulo. Teve um caso com ela enquanto era noivo de Nara Leão. "Com a Maysa, a sensação dolorosa pelo rompimento do meu noivado com Nara foi literalmente afogada. Em álcool." Segundo o memorialista, Maysa era dada a agressões e tinha obsessão por trair os companheiros.
Elis ganhou as páginas mais curiosas. Bôscoli lançou-a no Beco das Garrafas e se apaixonou por ela. "Fiel aos meus princípios filosóficos de jamais avançar o sinal, eu ficava ali, na cara de pau, bebendo meu uisquinho". Uma noite, estava saindo do apartamento da cantora quando ela o pegou pela camisa e disse: "Você é veado ou me acha uma merda?".
Passaram dois dias trancados, "sem contato nenhum com o mundo externo, transando sem parar".
Curiosamente, é esse estilo cafajeste que salva o livro.
(LAG)

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