São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 1994
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Os vitoriosos

JANIO DE FREITAS
OS VITORIOSOS

O grande vitorioso eleitoral, como partido, é o PMDB que o jornalismo político dava como acabado. A recontagem do primeiro turno em Alagoas, recontagens parciais e a nova eleição de deputados no Rio impedem a definição numérica das bancadas partidárias. Mas o PMDB, que nas contas preliminares somava 103 deputados, por certo vai se manter como maior partido na Câmara. Além disso, está com 22 senadores. E governará 1/3 dos Estados. Só lhe falta, para tornar-se o fiel da balança durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, a emergência de um comando que lhe dê a consciência de sua força tão superior às demais.
O grande êxito eleitoral do futuro governo, ou o que está assim apresentado pelos meios de comunicação, produz mais propaganda do que efeitos reais sobre o cenário de forças políticas que se avizinha. Na verdade, para Fernando Henrique e seu governo tanto fazia que vencesse, no segundo turno, um ou outro dos disputantes em São Paulo, Minas, Rio, Bahia, Sergipe, Pará, Maranhão. Onde os fernandistas explícitos venceram, nestes Estados, foi para dar ao futuro governo federal o mesmo apoio que os derrotados se dispunham a dar na prática. As vitórias ocorridas nestes Estados têm mais reflexos para os respectivos partidos, e em particular para o PSDB, do que para ao futuro governo.
Já os resultados no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Goiás têm outras implicações possíveis. Dependendo do que o PMDB faça de seu excelente resultado eleitoral, seus futuros governantes peemedebistas incorporam-se à banda de música do governo ou integram, fortalecendo-o sobretudo com os pesos específicos do Rio Grande do Sul e de Goiás, o fiel da balança que pode mudar muita coisa nas perspectivas políticas até aqui imaginadas.
As duas vitórias do PT têm significados diferentes. A de Vítor Buaiz, no Espírito Santo, livrou-nos do barbarismo que a união de polícia e riqueza fascistóide queria exibir ao país, com o cabo Camata. A vitória de Cristovam Buarque, em Brasília, tem também um sentido local importante, mas não só esse. O que o governo Joaquim Roriz tem feito com a administração e com os cofres do Distrito Federal precisa ser investigado a fundo, para produzir as consequências devidas.
Mas, a par de propor-se a tal tarefa, Buarque é intelectual sólido, com formação acadêmica e técnica de Primeiro Mundo, e cabeça criativa de propostas sempre interessantes. Com o palanque que acaba de tomar à mediocridade, tende a ser a voz que faltava no primeiro nível político para quebrar o mesmismo, o de agora e o antevisto, e proporcionar um contraste de idéias aos chavões do economismo neoliberal.
À margem de tudo isso: a coisa foi feia no Maranhão, vejamos o que o TSE se disporá a fazer.

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