São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 1994
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Colocar o país nos trilhos

ESDRAS DOS SANTOS FILHO

Dentre todos os problemas estruturais que enfrentamos no Brasil, gerados por anos de má administração e falta de compromisso com os interesses públicos, deparamo-nos com a deficiência no sistema de transporte causada, em grande parte, pelo sucateamento da ferrovia.
No país, apenas 22,4% do transporte de carga é ferroviário, contra 55,6% rodoviário (Anuário Estatístico Geipot 1990). Número este que fica longe da média dos países subdesenvolvidos, que transportam 38,50% de suas mercadorias pela ferrovia (International Year Book).
Para se ter uma idéia, a mais densa rota de cargas do eixo Rio-São Paulo, a rodovia Presidente Dutra, está há muito saturada, contribuindo para os prejuízos em ineficiência e acidentes. O projeto de duplicação da rodovia não se concretiza, mas a alternativa de se utilizar uma linha ferroviária paralela não é levada a sério. Resultado: a Dutra caótica e a linha da RFFSA (Central do Brasil) com índices absurdos de ociosidade.
Também é preciso lembrar que, se no transporte o objetivo é conjugar rapidez, segurança, economia e não-agressão ao ambiente, a ferrovia está ocupando um lugar muito distante do que seria aconselhável.
Quando se pensa em transporte urbano a relação é pior ainda: 0,3% ferroviário, contra 96% rodoviário. E, segundo levantamento do Bid (Banco Interamericano de Desenvolvimento), o gasto no país com acidentes de trânsito registrados oficialmente chegam a US$ 1,5 bilhão. Com a provável imprecisão dos dados estatísticos, esse valor pode chegar a US$ 5 bilhões, o que faz a opção pela rodovia ainda menos atraente.
Com o seminário "A engenharia repensando a ferrovia", o Sindicato dos Engenheiros, em conjunto com a Associação dos Engenheiros da Fepasa, promoveu um debate nos dias 18 e 19 de outubro.
Empresários, especialistas, trabalhadores e representantes do poder público reuniram-se no Edifício Júlio Prestes, em São Paulo, abordando os diversos aspectos da problemática do transporte ferroviário.
Neste leque de interesses, em geral muito diversos, houve um consenso: é preciso recuperar a ferrovia e investir nas empresas do setor que hoje se encontram em situação de penúria, a exemplo da Fepasa.
O seminário elegeu os seguinte objetivos gerais para o setor: um plano estratégico para que a multimodalidade obedeça critérios que possam ir ao encontro da eficácia energética e do baixo impacto do meio ambiente; abrir caminho para exploração da infra-estrutura existente e que os recursos para os vários modais sejam equânimes; e criar um fórum permanente com a participação da comunidade para orientar a eficácia no setor de transportes em São Paulo. Agora resta fazer.

ESDRAS MAGALHÃES DOS SANTOS FILHO, 41, é presidente do SEESP (Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo).

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