São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 1994
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Ao vencedor, a ação

Os resultados eleitorais acabaram sendo ainda mais favoráveis ao presidente eleito Fernando Henrique Cardoso do que se poderia supor nos dias prévios, com base nas pesquisas de intenção de voto.
Já se antevia que o partido de FHC, o PSDB, conseguiria eleger os governadores dos três maiores colégios eleitorais (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro). Mas o que acabou ocorrendo foi bem além disso: com a vitória de Antônio Britto (PMDB) no Rio Grande do Sul, entre outros resultados, FHC terá como aliados próximos os governadores de oito dos dez maiores colégios eleitorais do país.
As exceções são o pernambucano Miguel Arraes (PSB) e o catarinense Paulo Afonso (PMDB). Mesmo assim, Paulo Afonso já emitiu sinais de que quer a maior sintonia possível com o governo central. As urnas de outubro/novembro oferecem, portanto, ao presidente eleito condições invejáveis para iniciar com toda a força o seu período administrativo.
Mas nunca é demais lembrar que uma situação até certo ponto semelhante já ocorrera antes, em 86. Naquele ano e na esteira do Plano Cruzado, o PMDB fez 21 dos 22 governadores da época.
Pode-se ressalvar que o então presidente, José Sarney, era apenas nominalmente do PMDB e se viu forçado a uma espécie de condomínio no poder com Ulysses Guimarães, então a grande liderança do partido. Não parece razoável imaginar-se a repetição do fenômeno no futuro próximo.
De todo modo, o apoio dos governadores ao presidente fica sempre condicionado ao maior ou menor êxito deste. Voltando ao Cruzado: governadores como Orestes Quércia, Wellington Moreira Franco e Newton Cardoso, que deviam suas eleições ao plano, não obstante voltaram-se contra seu criador, o ministro Dilson Funaro, tão logo o Cruzado começou a fazer água.
Por tudo isso, aumenta ainda mais a responsabilidade do futuro presidente. Não há, a rigor, escusa alguma para a inércia ou a ineficiência. Terá sólido respaldo parlamentar, não terá dificuldades iniciais com os governadores e a situação econômica, com todos os problemas ainda pendentes, é visivelmente melhor do que a que receberam o próprio Sarney, Fernando Collor e Itamar Franco.
Com a eleição, esgota-se a última –e, assim mesmo, inaceitável– justificativa para a inação do presidente eleito. O tabuleiro político está definido. É mais do que hora de começar o jogo.

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