São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 1994
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A imprensa e o Exército

A imprensa tem pela frente um grande desafio: a cobertura do combate ao crime pelas Forças Armadas no Rio de Janeiro. Já se tornou um lugar-comum dizer que, numa guerra, a primeira vítima é a verdade. A máxima tem algum fundamento, mas não é, por certo, um juízo necessário e universal. Basta lembrar que a Guerra do Vietnã, na qual não se fez nenhuma espécie de restrição ao trabalho da imprensa, teve o seu fim acelerado pelo noticiário dos jornais e da TV, que souberam revelar a inutilidade e a selvageria daquele conflito.
Embora seja possível cobrir operações militares com isenção, responsabilidade e objetividade, há que se reconhecer que é difícil fazê-lo. Os militares são, por formação, avessos à publicidade e tendem a transformar todo tipo de informação em segredo de Estado.
É claro que existem informações que, se divulgadas previamente, poderiam comprometer o resultado da operação, mas esta Folha reafirma o princípio de que cabe às autoridades e não aos jornalistas zelar pelo sigilo de informações que considerem reservadas, dentro dos limites da lei.
Se se admite o princípio de que os jornais não devem publicar notícias que contrariem um conceito bastante vago e maleável de interesse público, restabelece-se a autocensura, eliminando-se uma das poucas formas de controle que a sociedade exerce sobre o Estado.
No caso específico da ação do Exército no Rio, a imprensa tem uma responsabilidade ainda maior, uma vez que não existe, para esse tipo de operação, nenhuma outra esfera de controle independente sobre eventuais abusos por parte de militares.
De resto, parece descabida a idéia dos militares de não permitir que a imprensa acompanhe ações nos morros e nas favelas. Nenhuma das liberdades e garantias individuais foi suspensa, entre as quais se incluem o direito de ir e vir e o direito à informação.

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