São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 1994
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Cordilheira Paine é vizinha à dos Andes

MURILO GABRIELLI
DO ENVIADO ESPECIAL AO CHILE

O parque Torres del Paine se localiza na 12ª Região chilena, a cerca de 400 km de Punta Arenas (cidade às margens do estreito de Magalhães) e a 150 km de Puerto Natales, a cidade mais próxima.
Boa parte de sua área é ocupada pela cordilheira do Paine, um grupo montanhoso independente da vizinha cordilheira dos Andes.
Formada há cerca de 12 milhões de anos, ela ocupa hoje uma área que foi anteriormente leito de oceano. Daí a grande quantidade de fósseis marinhos que se encontram por todo o parque.
O Torres del Paine faz fronteira com outro parque chileno –o O'Higgins–, com fazendas e com a Argentina.
É nesse trecho da divisa Chile-Argentina que se localiza o Campo de Gelo Sul, terceira maior massa de gelo do mundo –menor, apenas, que os campos da Antártida e da Groenlândia.
O clima da região é seco –chove, em média, de 200 mm a 300 mm por ano. A presença de vegetação exuberante em locais de solo úmido se explica pela presença de vários lençóis freáticos.
É difícil determinar qual a melhor época para visitar o parque. Durante o verão, a temperatura é elevada –pode chegar nas regiões mais baixas a 30oC–, mas os ventos são fortíssimos.
O inverno apresenta temperaturas mais altas do que se poderia esperar –entre -10oC e OoC– com a vantagem adicional da ausência de vento. Porém, há o incoveniente da neve, que, quando excessiva, impede algumas das excursões.
Na primavera e no outono a temperatura é amena durante o dia –oscila entre 0oC e 12oC– e os ventos têm intensidade moderada para a região –mesmo assim, às vezes beirando os 100 km/h.
A região do parque possui fauna rica e exótica. São 25 tipos de mamíferos e 115 espécies de aves. Não espere, porém, encontrar lá pinguins: estes se concentram no litoral.
Entre os mamíferos, o mais visível é o guanaco –há cerca de 3.000 no parque–, um camelídeo de pelagem castanha da mesma família do lhama e da alpaca.
Costumam andar em bandos e são avistados por todos os lados. Não deixe que a empolgação com a aparência simpática do ruminante o leve a um contato "tête-à-tête": quando se sente ameaçado e não tem para onde fugir, o guanaco costuma lançar um jorro de sua fétida e viscosa saliva.
Outra atração –difícil de ser achada– é o puma. A melhor época para observá-lo é o inverno, quando deixa seu hábitat mais comum: os cumes dos morros.
Essa subespécie da região patagônia está à beira da extinção. Seu principal predador são os fazendeiros locais, que, para protegerem seus rebanhos de carneiros –presas costumeiras do puma–, caçam-no ilegalmente.
Foi esse o mesmo problema enfrentado pelos quatro grupos indígenas da Patagônia, que culminou com seu massacre.
Acostumados a caçar os ariscos guanacos, os nativos passaram a se servir dos dóceis rebanhos de carneiros introduzidos pelos fazendeiros e, consequentemente, a ser perseguidos por estes últimos.
Há pouquíssimos exemplares no parque do animal-símbolo do país, o "huemul". Contam-se apenas mil indivíduos desse tipo de alce em todo território chileno.
Dentre as aves, os mais numerosos e interessantes são os "caiquéns" (gansos selvagens). Monogâmicos, podem ser avistados aos pares ou em bando.
É fácil diferenciar os sexos. A fêmea é pequena e acinzentada; o macho, grande e branco. Habitam também o parque grandes manadas de emas (chamadas de "ñandús").
Devido aos vários microclimas existentes, encontram-se variados tipos de grupos vegetais.
As áreas mais úmidas são ocupadas pelos bosques de "lenga", cujo tronco é geralmente repleto de fungos e parasitas.
As áreas mais secas são ocupadas pelo deserto andino, que tem, em média, apenas 30% de seu solo coberto por vegetação.
As estepes ocupam as regiões mais frias e possuem vegetação rasteira.

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