São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 1994
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Navegador descobre último mar do mundo

JAVIER PÉREZ DE ALBÉÑIZ

Fernão de Magalhães avistou a Terra do Fogo, enfrentou motins e batizou o estreito que leva o seu nome

A fronteira do fim do mundo leva seu nome: estreito de Magalhães. Descobridor da perigosíssima via de comunicação entre o Atlântico e o Pacífico, o conquistador português avistou a Terra do Fogo, capturou gigantes patagônios, enfrentou motins, fome e escorbuto e morreu abatido pelos rebeldes. Conheça o doloroso caminho traçado sobre as águas por Fernão de Magalhães.
Os mares do Cone Sul da América são uma arapuca mortal, um convite ao suicídio. Suas nuvens de chumbo são carregadas de raios e temporais. Suas águas escuras parecem estar sempre dispostas a engolir quem as desafia. E seu coração se perde entre o céu e o inferno, suficientemente longe dos dois lugares para que seja inútil pedir socorro. Em seus domínios, os homens mais bem preparados parecem novatos e os navios mais modernos ainda parecem pouco melhores do que cascas de noz.
O último mar do mundo se nega a viver em paz. Talvez por essa razão, a aventura de Fernão de Magalhães tenha sido a mais audaz de todas que a humanidade já viveu.
Em 1520, procurando um novo caminho até as Molucas, o objetivo principal dos comerciantes de especiarias, o conquistador português encontrou a via marítima que liga o oceano Atlântico ao Pacífico: o estreito de Magalhães. A fronteira do fim da Terra.
"Chegaram os dias em que, ao cabo de séculos, o oceano revela seu segredo e aparece a terra incógnita, em que o piloto argonauta descobre novos mundos e Thule já não será o país mais distante de nossa Terra". A profecia da "Medéia" de Sêneca se fez realidade.
Desde então, o estreito separa a Patagônia e a Terra do Fogo, as duas regiões mais selvagens e instigantes do extremo sul americano. Ali acaba a terra em chamas e começam as águas do vento. Mais ao sul há apenas sombras. O pesadelo de marinheiros e piratas: o começo do nada, o lugar dos naufrágios, o lendário e temível cabo Horn.
Terras e águas virgens, onde a fama e a fortuna aguardavam o descobridor –mas também a morte e o esquecimento. Magalhães e seus 265 homens, divididos entre cinco naus de bandeira espanhola (Trinidad, San Antonio, Concepción, Victoria e Santiago), partiram do porto de Sevilha, na Espanha, no dia 10 de agosto de 1519.
O rei Carlos 1º havia apadrinhado um projeto que a monarquia portuguesa se recusara a financiar. A expedição tinha víveres suficientes para dois anos, armas para defender-se de qualquer inimigo e um mapa secreto que o grande cosmógrafo Martin Behain, cartógrafo da corte portuguesa, entregou a Magalhães antes de partir.
Magalhães não conhecia a existência do estreito, mas a pressentia. O canal tão ansiado estava desenhado em mapas de navegantes anônimos, no globo que o cartógrafo Schener assinou em 1515, quatro anos antes de o navegante português apresentar seu projeto à corte castelhana, e num manuscrito da tesouraria do rei de Portugal.
Tradução de Clara Allain.

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