São Paulo, sexta-feira, 18 de novembro de 1994 |
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Caixa de CDs festeja o swing do selo Verve
CARLOS CALADO
Em seus quatro CDs, a caixa "The Verve Story: 1944-1994" mostra que, apesar de uma razoável abertura para vários estilos do gênero, a marca Verve está historicamente associada ao chamado "mainstream" –o jazz que se equilibra entre a tradição do swing e alguns avanços do moderno bebop. As 58 faixas selecionadas aparecem em ordem cronológica. O primeiro CD começa com "Blues", faixa gravada ao vivo no Philharmonic Auditorium de Hollywood, em 2 de julho de 1944, por um septeto que destacava quatro feras do jazz; Illinois Jacquet (sax tenor), J.J. Johnson (trombone), Nat King Cole (piano) e Les Paul (guitarra). Foi nessa noite que Norman Granz –um montador de cinema de Los Angeles, cuja paixão pelo jazz o transformou em produtor de shows e discos– descobriu um ovo de Colombo. A ótima repercussão de seu primeiro concerto de jazz, em um palco tradicionalmente voltado à música erudita, incentivou Granz a formar uma companhia de astros do gênero para correr os EUA. Assim nasceu a série Jazz at the Philharmonic, cujo sucesso (inclusive internacional) provou que o jazz de qualidade também podia obter um bom retorno financeiro. Embora Granz tivesse usado a marca Verve para reunir todas suas gravações só a partir de 1956, em uma esperta jogada de marketing a Polygram passou a usar a data do concerto de Hollywood como nascimento do selo. Truque mercadológico ou não, o que importa mesmo é que nessas cinco décadas Granz e sua marca construíram um catálogo de primeira, desde registros dos saxofonistas Lester Young e Charlie Parker, no Jazz at the Philharmonic de 1946 ("Oh, Lady Be Good"), até o jazz atual do original baixista e compositor Charlie Haden ("Hello My Lovely"). Num total de quase cinco horas de música, a caixa traz várias raridades. Como a gravação de "Picasso", um pioneiro solo à capela do saxofonista Coleman Hawkins, registrado em 1948. Ou, do ano seguinte, a gravação de "Tanga", com a orquestra de Machito, precursora do jazz afro-cubano. O swing e bebop comandam a maior parte das faixas, mas também há espaço para o "west coast" de Buddy DeFranco, o "hard bop" de Sonny Rollins com Dizzy Gillespie e até a vanguarda de Jimmy Giuffre. Sem falar na bossa nova de João Gilberto, que a Verve ajudou a divulgar internacionalmente através de Stan Getz. Outro filão em que o selo sempre investiu foi o do jazz vocal, representado na caixa através de grandes cantores, como Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Anita O'Day, Mel Tormé e Blossom Dearie. Já nos últimos anos quem comanda o imbatível time vocal da Verve são as "ladies" Betty Carter, Shirley Horn e Abbey Lincoln. "Cult" entre fãs da bateria, o álbum "Krupa and Rich" traz os dois percussionistas favoritos das platéias do Jazz at the Philharmonic. Sem recorrer ao exibicionismo que marcava seus confrontos naqueles concertos, Gene Krupa e Buddy Rich só se encontram em "Bernie's Tune", que inclui uma introdução de seis minutos apenas com os tambores e pratos da dupla. No mais, essa gravação de 1955 é uma aula de swing ministrada por dois mestres do ritmo. Já nas 20 faixas do CD "Flying Home", o veterano Illinois Jacquet mostra porque invariavelmente fazia ferver as platéias dos concertos de Norman Granz. Fera do swing, Jacquet soube assimilar os estilos clássicos de Lester Young, Coleman Hawkins e Herschel Evans. mas sua diferença estava nos solos berrados, incendiados por notas agudíssimas, na linha dos saxofonistas de "rhythm and blues". Um verdadeiro vulcão sonoro. Títulos: "The Verve Story: 1944-1994" (antologia em caixa com 4 CDs), "Flying Home" (do saxofonista Illinois Jacquet) e "Krupa & Rich" (dos bateristas Gene Krupa e Buddy Rich) Lançamentos: Verve/Polygram Quanto: R$ 20 (cada CD, em média) Texto Anterior: Sonia Braga quer filmar Tieta no Brasil Próximo Texto: Pratique exercícios para o espírito Índice |
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