São Paulo, sexta-feira, 18 de novembro de 1994 |
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Bandido e mocinho Há algo de profundamente errado com a corporação policial da qual integrantes, usurpando as funções de juiz e carrasco, assassinam friamente aqueles que consideram bandidos. Mas, quando essa mesma corporação, em vez de investigar e punir exemplarmente os maus policiais, acoberta-os, ela está podre. E, quando se trata de punir supostos agentes da lei que decaíram para a condição de assassinos comuns, a hoje tão malfalada (não sem razão, diga-se) polícia carioca ainda consegue melhores resultados do algumas de suas congêneres de outros Estados, pelo menos nos casos que ganharam ampla repercussão nacional e internacional. Os apontados como responsáveis pelos cruentos massacres da Candelária e de Vigário Geral estão presos, aguardando julgamento. Essa mesma necessária depuração parece estar-se encaminhando no caso da invasão da favela Nova Brasília, que resultou na morte de 13 pessoas. Algumas delas, ao que tudo indica, foram assassinadas. Dois PMs já foram presos e 10 policiais civis terão sua atuação investigada. É de se estranhar, entretanto, a promoção do policial que comandou a ação. Cabe ao governador Nilo Batista esclarecê-la. Em São Paulo, passados dois anos do ignominioso massacre do Carandiru, no qual a polícia matou 111 homens sob a custódia do Estado, ninguém foi punido. Como no Rio, alguns dos comandantes da operação foram até promovidos. Ninguém ignora os terríveis problemas que o país atravessa, dos quais a corrupção policial e os níveis de violência são apenas uma faceta. Ainda assim, é de se supor que existam bons agentes de polícia. É particularmente a estes –bem como a toda a sociedade– que interessa a apuração completa e rigorosa dos massacres. Toda vez que um crime cometido por representantes do poder público fica sem punição, o ônus recai sobre a corporação como um todo, gerando um turbilhão que indiferencia os bons dos maus policiais. É evidente que quem perde são os primeiros. O pior, porém, é que nesse processo o próprio Estado cai em descrédito e acaba cedendo mais espaço às forças do caos. Texto Anterior: A vez dos Estados Próximo Texto: Ainda é pouco Índice |
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