São Paulo, sábado, 19 de novembro de 1994
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EXÉRCITO INVADE MORRO

DA SUCURSAL DO RIO*

O Exército deflagrou ontem ações em pelo menos cinco áreas de favela da cidade do Rio de Janeiro, dando início efetivo à operação de combate ao tráfico de drogas e porte ilegal de armas.
As forças militares atuaram junto às favelas Dona Marta (Botafogo, zona sul), Chapéu Mangueira (Leme, zona sul), Turano (Rio Comprido, zona norte), Andaraí (Andaraí, zona norte) e Pavão/Pavãozinho (Ipanema, zona Sul).
No morro do Vidigal (Leblon, zona sul), que não estava incluído na relação divulgada pelo Comando Militar do Leste, veículos do Exército foram vistos circulando ontem.
A ação mais efetiva ocorreu no Dona Marta, um dos morros onde o controle do tráfico é mais violento.
Cerca de 50 homens subiram o Dona Marta às 15h45 e às 16h30. Eles estavam armados de fuzis e vasculharam ruas, becos, casas e barracos. Segundo um soldado que não quis se identificar, eles procuravam a casa da mãe de um dos traficantes. Sete homens não-identificados foram detidos.
Esta não é a primeira vez que o Dona Marta é invadido. Em agosto de 87, durante uma semana, policiais subiram o morro para reprimir uma guerra entre traficantes. Sete supostos traficantes foram presos.
Na entrada do Turano, soldados do bloquearam o trânsito e pararam pessoas. Todos os que se encontravam sem documentos eram detidos e confinados num caminhão militar. Segundo o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, José Carlos Batochio, a prisão de pessoas sem documentos só é mencionada na lei que define o abuso de autoridade.
No Pavão/Pavãozinho e do Vidigal –ambos localizados junto aos bairros mais nobres da cidade– os soldados realizaram patrulhamento ostensivo e bloqueio para identificação nas vias de acesso.
Também ontem o Exército realizou blitze em pelo menos seis estradas que dão acesso ao Rio. Os militares revistavam automóveis e caminhões e apreenderam uma escopeta e dois revólveres.
A jogadora da seleção brasileira de vôlei, Márcia Fu, teve seu jipe Suzuki Vitara revistado e foi liberada em seguida.
Os passageiros dos ônibus interceptados eram obrigados a ficar perfilados de costas, com as mãos nas cabeças, sob a mira de armas. As revistas eram minuciosas.
Até o final da tarde o comando da operação contra a violência não tinha divulgado detalhes das ações.
Em Brasília, o general Gilberto Serra, chefe do Ccomsex (Centro de Comunicação Social do Exército), afirmava que o Exército não iria subir os morros. "O Exército não vai cumprir papel de polícia."
Segundo ele, através do patrulhamento massivo, as Forças Armadas serão responsáveis pela abertura de espaços para que as polícias possam subir nos morros e prender traficantes.

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