São Paulo, sábado, 19 de novembro de 1994
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Tropas do Exército sobem o morro Dona Marta

e fazem revista

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Tropas do Exército subiram ontem duas vezes o morro Dona Marta, em Botafogo (zona sul), revistaram casas e pessoas e fecharam o acesso ao morro, na maior operação da ação antiviolência no Rio.
Cerca de 50 homens do 1º Regimento de Carros de Combate participaram da operação. Os soldados usavam fuzis automáticos leves e metralhadoras de mão.
As tropas chegaram em dois caminhões e seis jipes. Os caminhões foram colocados nas duas ladeiras de acesso ao morro, fazendo barreiras.
Todas as pessoas que entravam eram revistadas minuciosamente. Foram detidos sete homens que estavam sem documentos.
A primeira subida ao morro foi às 15h45. Dez homens em dois jipes subiram a rua Japeri. O alvo do cerco era a casa da mãe de dois homens apontados como gerentes do tráfico no morro, "Robertinho" e "Ronaldinho".
A casa estava fechada e não foi invadida. Os moradores permaneceram na rua e nas janelas das casas. Até as crianças foram deixadas na ladeira.
"Vocês estão com medo?", perguntou da janela um morador, em tom irônico. "É o Exército, então não há por que ter medo".
Logo depois, os soldados desceram. A revista continuava nas ruas de acesso. Até mochilas de crianças eram revistadas.
"Pode ser um veículo para o transporte de drogas", afirmou um soldado, enquanto olhava a bolsa de uma garota de dez anos, que voltava da escola.
As tropas revistaram carros particulares, um ônibus e até um caminhão que transportava cerveja. Não foram apreendidas drogas.
Em cada veículo, os soldados checavam o porta-malas, levantavam bancos e tapetes e examinavam o motor.
Um rapaz de aproximadamente 20 anos, que não se identificou, zombou da revista. "É claro que eles não vão encontrar drogas. Estão pensando que alguém vai descer carregado por aqui?"
Às 16h20, sob chuva forte, nova subida pela ladeira Japeri, com os mesmos dez homens em dois jipes. Desta vez, os soldados entraram nos barracos e casas e revistaram pessoas.
Esta entrada foi mais longa e durou aproximadamente 40 min. Ninguém foi preso no morro. Os moradores acompanharam as buscas em silêncio.
As sete pessoas que haviam sido detidas por estar sem documentos foram levadas por uma Kombi do 2º Batalhão de Polícia Militar, em Botafogo.
Os comandantes da operação se recusaram a fazer qualquer comentário. Também não disseram para onde haviam sido levados os sete homens detidos.
Um oficial que não quis se identificar disse que a operação era um "reconhecimento de área".
Ele disse que o Exército já tinha um levantamento fotográfico das áreas de favela no Rio, mas negou que a operação de ontem tivesse este objetivo.
Ele informou que as tropas só sairiam do morro quando recebessem uma "ordem superior". A operação terminou às 19h.
Os moradores do morro não gostaram da operação. "É um absurdo, estou voltando do trabalho e tenho que me submeter a esta humilhação", disse uma mulher.
Alexandre Costa, 28, morador do edifício vizinho ao morro, disse que a operação era "uma arbitrariedade, um absurdo".
Até as 20h, a 10ª Delegacia Policial, em Botafogo, e o 2º Batalhão de Polícia Militar não haviam informado para onde haviam sido levados os sete homens detidos.

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