São Paulo, sábado, 19 de novembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Agressividade voltou às grandes redes

MARISTELA MAFEI
DA REPORTAGEM LOCAL

Para o Pão de Açúcar, dono da rede Extra de hipepermercados, os dados do Procon-Dieese para a cesta básica vem sepultar de vez a fama de careiro que perseguiu o grupo em outras épocas.
A tese ainda não chega a convencer Cornélia Porto, coordenadora da pesquisa do Procon/Dieese.
"Agora é a vez de o Pão de Açúcar aparecer, como, no passado, foi a vez do Carrefour. O problema é que muitas vezes determinado grupo faz fama de que vende por menos e o consumidor se esquece de fiscalizar se isso vai realmente durar", afirma.
A rede francesa, que até 93 vinha se mantendo na liderança dos preços baixos no Procon/Dieese, não aparece sequer uma vez nos 11 primeiros meses de 94 para os dados gerais, relativos ao município de São Paulo.
O Carrefour lembra sempre que o consumidor pode pedir a diferença de volta, caso encontre preços mais acessíveis do que os seus.
A rede Kofú avalia que começou a ganhar competividade maior nos preços, de julho para cá, depois que criou um departamento de marketing, fez contratações na área de treinamento e passou a investir na mídia impressa.
O Extra prepara a inauguração de sua terceira loja em São Paulo, no shopping center Fiesta, zona sul, com a introdução de programas de computador que permitem agilizar a reposição de mercadorias nas prateleiras.
"Com o real as diferenças de preços ficaram mais evidentes para o consumidor e as grandes redes voltaram a ser agressivas", avalia Cornélia Porto.
Luis Antônio Viana, diretor-superintendente da rede Pão de Açúcar, lembra que, antes do real, "a inflação distorcia os resultados de uma prática administrativa racional e muitas vezes anulava os benefícios desse perfil de loja".
O supermercado Peri, localizado no Jardim Peri, zona leste, –líder da pesquisa do Dieese até junho último–, conta com oito pessoas da família dentro da loja; não possui pacotes, empacotador ou qualquer outro tipo de conforto para o cliente.
"No Extra você tem fraldário, carrinhos com calculadoras, empacotadores, pacotes e todo um layout moderno", diz Viana.
Isso mostra, segundo ele, que o "real trouxe ao consumidor a possibilidade de comprar por preços baixos, com todo o conforto, em lojas de Primeiro Mundo".
Maurício Koshun Takara, do Peri, pensa diferente. Para ele, o que deu mais folga para as grandes redes, depois do real, "foi que elas voltaram a fazer estoques e a negociar compras de mercadorias em grandes quantidades".
Vicente Fiúza, da CSI-Comércio, Serviço e Informações, uma das maiores empresas de automação comercial do país, acredita que o real anulou parte das vantagens que o varejo tocado pela família apresentava.
"Com a estabilidade da moeda você pode medir melhor os resultados de venda por categoria e de cada marca dentro de determinada categoria", afirma Fiúza.
A automação permite saber qual marca é preferida pelo público consumidor de uma loja em específico e aponta, ainda, qual a marca mais barata.
Com isso, conseguem maximizar o giro dentro de cada categoria de produto e acabam reduzindo custos na média do mix da loja. Em situações como essas, os supermercados familiares, com menos recursos, acabam perdendo competitividade nos preços.
(MM)

Texto Anterior: Remédio é mais barato em supermercado
Próximo Texto: Importação e exportação cresce em Foz do Iguaçu
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.