São Paulo, sábado, 19 de novembro de 1994
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Rendimento da poupança terá diferença entre bancos

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

A desindexação final da economia acabará com a caderneta de poupança tal como vem funcionando há muitíssimos anos.
A remuneração, igual para todos os bancos, que hoje corresponde a 0,5% de juros ao mês mais a Taxa Referencial, variará de banco para banco e terá que ser negociada cliente por cliente.
Na prática, a poupança se transformará em um investimento como qualquer outro disponível hoje.
Desaparecerá, igualmente, a diferença hoje existente entre atualização monetária e juros nominais.
Os estudos para a total desindexação, incluindo a extinção da TR, avançam no Ministério da Fazenda, mas não há ainda um cronograma para implementá-la.
É até possível, conforme a Folha apurou na Fazenda, que se faça uma desindexação escalonada.
O indexador que a equipe econômica acha mais fácil de eliminar é a Ufir. Trata-se do índice que corrige o valor dos impostos, cujo uso hoje já é bastante restrito.
Depois, viria ou a TR ou o IPC-r como o índice que corrige os salários na data-base de cada categoria profissional.
A MP que criou o real introduziu também o IPC-r como indexador salarial. O governo acha simples modificar a lei, mas acha também que os tribunais, a cada dissídio, repassariam o IPC-r para os salários de toda forma.
Por isso, prefere retirar da agenda o conceito de que a reposição da inflação passada está assegurada a cada dissídio.
O problema da indexação salarial está, do ponto de vista da equipe, menos nos salários e mais na transferência para os preços da reposição salarial.
Exemplo obtido ontem pela Folha: embora o IPC-r, entre julho e outubro, tenha ficado perto de 15%, os preços industriais no atacado subiram apenas 1%.
Quanto à mudança no mercado financeiro, o que mais usa a TR, a equipe econômica acha que os problemas serão até menores, por mais que os poupadores tenham se habituado a um mecanismo virtualmente automático de remuneração da poupança.
Pelas contas do governo, a poupança deixou de ser "um instrumento do povão" e passou a ser de investidores grandes e médios.
Esse pessoal, sempre nos cálculos da equipe, sabe perfeitamente quando um CDB vai render mais do que a poupança e vice-versa.
Não teria, portanto, dificuldade em se adaptar ao novo cenário.
Quanto aos pequenos poupadores, que sempre puseram dinheiro nas cadernetas pela seu automatismo (rende, em todos os bancos, o mesmo 0,5% mais um indexador, que hoje é a TR), o raciocínio ouvido pela Folha é este:
"Quem soube fazer a conversão de cruzeiro real para real, com R$ 1 real valendo CR$ 2.750, sabe fazer qualquer coisa".

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