São Paulo, sábado, 19 de novembro de 1994
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Cenas de Intifada ameaçam Arafat

DAVID COHEN
EDITOR-ADJUNTO DE EXTERIOR

Um dos maiores perigos para Iasser Arafat começou a se confirmar ontem. As imagens do confronto entre palestinos na faixa de Gaza são praticamente idênticas às da Intifada (revolta contra a ocupação israelense iniciada em 1987), com os policiais da OLP no papel dos soldados israelenses.
Se o confronto entre soldados com fuzis e jovens atirando pedras era ruim para a imagem de Israel, para Arafat é muito pior.
Em 25 anos como líder da Organização para a Libertação da Palestina, Arafat soube como nenhum dirigente misturar sua trajetória pessoal à imagem de seu povo. Em meio ano como líder do governo autônomo, Arafat passou de pedra a vidraça.
O processo já se ensaiava nas rusgas com o Hamas e a Jihad. Arafat não tem como conter os radicais sem dar a impressão de estar reprimindo seu povo.
Não é à toa que os insultos mais gritados contra ele ontem eram traidor e lacaio de Israel.
Arafat se encontra hoje entre dois fogos. Para os palestinos, cuja vida não melhorou quase nada, é cada vez maior a impressão de que ele está simplesmente ocupando o lugar dos repressores israelenses. Em Israel, são cada vez maiores as críticas de que ele está ocupando mal este lugar.
Ou seja, Arafat tem que se mostrar mais equilibrista do que nunca. Por um lado, para não perder a liderança palestina (e ele sabe disso, tanto que em discursos na semana passada voltou a referir-se a Israel como inimigo).
Por outro lado, para não pôr a perder o acordo de autonomia (a direita israelense ontem já começava a reclamar o estancamento do processo, argumentando que Arafat não consegue manter a calma nos territórios ocupados).
A solução com que Arafat conta e que está demorando mais do que o esperado é a ajuda financeira. Segundo Terje Larsen, enviado da ONU aos territórios ocupados, países árabes prometeram US$ 700 milhões para a Autoridade Palestina em 94, dos quais só chegaram entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões.
Sem projetos econômicos, sem dinheiro para erguer uma infra-estrutura, Gaza se perpetua como o lugar mais pobre do Oriente Médio. E o mais explosivo.

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