São Paulo, sábado, 19 de novembro de 1994
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Limbo congestionado

Cerca de 70% dos governadores eleitos em 1990 não conseguiram fazer seus sucessores. Esse é um número que deveria chamar a atenção dos políticos, à medida que representa uma nítida rejeição do eleitorado a boa parte das gestões que estão para terminar.
Mais grave ainda é o fato de que porcentagem idêntica de repúdio aos governadores de turno ocorreu na eleição anterior. Também cerca de 70% dos governadores eleitos em 1986 não haviam conseguido eleger seus sucessores.
É evidente que cabe matizar a avaliação. Como a legislação brasileira veda a reeleição, governador algum concorre diretamente. É sempre obrigado a lançar um outro nome. Mesmo para políticos de reconhecida aceitação, fica difícil transformar esse prestígio em votos para o candidato que indicou.
Feita essa indispensável ressalva, permanece a sensação de que a grande maioria dos governadores não consegue convencer o eleitorado, que prefere experimentar esquemas político-administrativos diferentes no pleito seguinte.
Cabe examinar com mais atenção as causas desse fracasso. Em primeiro lugar, é fundamental apontar as dificuldades para administrar, em qualquer nível de poder, um país submetido a um prolongado período de crise.
As safras de governadores 86 e 90 foram, exatamente, as que sofreram o longo período de turbulência econômica e de superinflação.
Ainda assim, não serve como escusa, pela simples razão de que todos os Estados viveram idêntica conjuntura difícil, mas nem todos os governadores foram repudiados pelos eleitores. A título de exemplo, basta mencionar o Ceará, Estado que elegeu Tasso Jereissati em 86, que indicou Ciro Gomes para sucedê-lo e foi vitorioso e, agora, elege de novo Tasso.
Só esse exemplo (e há outros) permite dizer que faltou competência administrativa e/ou política aos governadores derrotados nas urnas. Que isso aconteça, faz parte do jogo democrático em qualquer parte do mundo. Mas que, no Brasil, aconteça em números tão elevados acaba sendo um recado ao conjunto do mundo político. Ou muda, para melhor, ou vai para o limbo.

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