São Paulo, sábado, 19 de novembro de 1994
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Sem oposição

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA – A oposição a José Sarney tinha o cabelo gomalinado e o nariz aquilino. Fernando Collor foi implacável com o antecessor. Chegou a chamá-lo de "ladrão".
A oposição a Collor tinha o rosto recoberto por uma barba espessa e a barriga espetada. Decidido a vigiar o rival, Lula chegou mesmo a montar um fracassado governo paralelo.
A oposição a Itamar Franco usava um topete prateado e tinha nervos de dinamite. Nascida do terremoto do impeachment, a gestão Itamar não estimulava a oposição. Atacá-lo soava impatriótico. Nos primeiros meses, como que inconformado, Itamar opunha-se ao próprio governo, salvo mais tarde pelo acaso.
Só a oposição a Fernando Henrique ainda não tem cara. A poucos dias da posse, o novo presidente parece não ter inimigos.
Derrotado na disputa presidencial, o PT seria candidato natural ao posto. É até possível que venha a assumir ares oposicionistas. Mas, no momento, parece tomado pelo sentimento da colaboração.
Lula deu as mãos a Covas em São Paulo. E o PSDB de Fernando Henrique dá suporte aos dois governos conquistados em 15 de novembro: Vitor Buaiz, no Espírito Santos; e Cristovam Buarque, em Brasília.
Fernando Henrique é credor de Buaiz. Recebeu-o em Brasília às vésperas da eleição. Deu-lhe apoio explícito. O petista deve-lhe agora, alguma solidariedade.
Em Brasília, Buarque teve em Maria Abadia, candidata tucana derrotada no primeiro turno, uma das alavancas para a vitória. Entregará algumas de suas secretarias ao PSDB.
O orçamento de Brasília depende, de resto, dos repasses feitos pelo governo federal. Logo, o relacionamento do governador petista com o presidente tucano terá de ser permanente e amistoso.
Ainda sob os efeitos do nocaute que sofreram, Enéas, Orestes Quércia e Leonel Brizola não parecem dispor de cacife para articular a oposição a Fernando Henrique. O surgimento da nova oposição depende do fracasso eventual do Plano Real e dos erros do novo presidente.

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