São Paulo, domingo, 20 de novembro de 1994
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Dez vítimas morreram com tiros na cabeça

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Os "mapas" das lesões dos 13 mortos na chacina da favela de Nova Brasília –agrupamento de morros e favelas conhecido como Complexo do Alemão, na zona norte do Rio– mostram que pelo menos dez deles foram atingidos com tiros na cabeça.
Os esquemas de lesões –nome técnico dado pelos legistas– foram feitos pelos peritos do (IML) Instituto Médico-Legal no dia da operação policial (18 de outubro), mas não foram divulgados.
A Folha teve acesso com exclusividade a 11 desses laudos. Apenas um dos mortos não foi atingido na cabeça. Um deles, o de Evandro de Oliveira, 22, mostra que ele foi atingido com um tiro em cada olho.
Segundo uma das testemunhas da chacina, ele teria sido morto pelo policial militar Guilherme Tell Mega, do 23º Batalhão da Polícia Militar (Leblon, zona sul), que já está preso.
Antes de atirar em Evandro, que estaria imobilizado no chão, o policial teria dito que não queria "garanhão de olhos verdes na favela".
A versão do delegado Maurílio Moreira, 61, titular da DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes) que comandou a ação na favela, é diferente. Segundo ele, Evandro teria sido atingido "por uma rajada de metralhadora" ao tentar atirar num policial.
"O que o policial fez foi se defender".
Além da hemorragia cerebral, Neri da Silva sofreu fratura craniana das regiões malar, masseterina, orbitária, frontal e temporal (veja quadro ao lado).
Alan Kardec Silva de Oliveira, 14, também teve o lado direito de sua cabeça esfacelado. De acordo com o laudo, ele foi atingido por um projétil de alta velocidade.
Além de tiros na cabeça, todas as vítimas têm vários outros pontos de entrada de projéteis espalhados pelo corpo.
Oito policiais já foram reconhecidos por três testemunhas da chacina. Três deles são policiais militares e participavam irregularmente da operação na favela.
Os três não usavam uniformes e pelo menos um usava um colete da Polícia Civil. Os outros cinco policiais identificados estão lotados na Divisão de Repressão a Entorpecentes. Os três PMs estão presos. Os cinco policiais civis ainda não foram afastados de suas funções.
Os PMs presos são Plínio Alberto dos Santos, Guilherme Tell Mega e José Luiz Silva dos Santos. Plínio foi reconhecido por uma das testemunhas como o homem que a teria estuprado.
Guilherme Tell seria o responsável pelos dois tiros nos olhos de Evandro de Oliveira. José Luiz teria apenas sido visto no morro na operação. Os policiais civis reconhecidos pelas testemunhas são Paulo Roberto Wilson da Silva, Rubens de Souza Bretas, Wagner Castilho Leite, Carlos Coelho Macedo e Ricardo Gonçalves Martins.
Segundo o delegado Maurílio Moreira, Ricardo não teria participado da ação.

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