São Paulo, domingo, 20 de novembro de 1994 |
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Queda do dólar põe em xeque Plano Real Câmbio centraliza discussões no governo e no mercado JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
"É uma visão muito primária da teoria imaginar que esta taxa é resultado de um equilíbrio de mercado e deve ser aceita. Não é bem assim", diz o ex-presidente do Banco Central Ibrahim Eris. Para ele, o real se valorizou refletindo um movimento de capitais de curto prazo. A economia que, por décadas, ficou fechada e sem crédito externo, agora se abriu. Eris usou uma figura para ilustrar o atual movimento no câmbio, comparando-a à abertura de uma comporta. Até que o nível de água fique igual nos dois lados, o fluxo é violento. Ainda mais violento porque a taxa de juros interna é de 60% ao ano, enquanto no mercado internacional está na faixa de 8%. O problema é que esta taxa de câmbio, fruto da enxurrada e que reflete um movimento de curto prazo, sinaliza "para parte da indústria que está na hora de fechar as portas. Mas daqui a dois ou três anos a situação será completamente diferente." Eris diz que para ajustar o câmbio é preciso reduzir os juros. "Se o plano precisar, para sobreviver, de uma taxa de 60% ao ano é melhor rasgá-lo e começar outro." Resta saber o que fazer até que o juro caia. As afirmações de Eris traduzem as preocupações sobre a política de câmbio colhidas no mercado financeiro pela Folha. Nem todos os entrevistados quiseram que seus nomes fossem mencionados. As alternativas em discussão procuram: 1) impedir a queda contínua do dólar; 2) resolver a dicotomia entre o câmbio e o juro; 3) ser um instrumento para estabilizar a economia. Mas nenhuma delas é consensual. Só uma: o governo deve aumentar o grau de conversibilidade do real. Ou seja, permitir que pessoas e empresas possam trocar moeda nacional por estrangeira. É uma forma de aumentar a demanda por dólar –ajudando a refrear a queda das cotações. Uma delas é adotar o modelo argentino: fixar a paridade entre o real e o dólar. Ela viabiliza, segundo alguns analistas, o fim rápido da indexação (correção pela inflação passada dos preços e salários). Mas é vista como um caminho sem volta: ou o ajuste fiscal é promovido ou o sistema estoura. Como ilustra o caso argentino, quando se fixa o câmbio, ao longo do tempo a moeda local vai se valorizando, já que existe uma inflação residual. No caso brasileiro, o real já está 17% mais caro que o dólar. Logo, antes de fixar o câmbio, o dólar teria que ser corrigido. "Vai ter que se dar uma mídi ou uma máxi. É uma jogada bem arriscada", diz o economista Eduardo Giannetti da Fonseca. A correção poderia provocar inflação. Outra alternativa é criar uma "banda", com um preço máximo e um preço mínimo para o dólar. O problema é que, ao estabelecer a "banda", alguma possibilidade de valorização para o dólar fica explícita –o que pode ser lido como o sinal para a reindexação. O sistema de "banda" não é bem visto por aqueles analistas que acreditam que o trabalho "sujo" de segurar a inflação, enquanto ajuste fiscal não se processa, vai recair mesmo sobre a política monetária (controle da quantidade de reais em circulação na economia). O fato de o BC fixar uma "banda" significa assumir o compromisso de comprar dólares (emitir reais). Para Eris, "não se trata de discutir quem é a favor do intervencionismo ou a favor do liberalismo. Na Ásia, os países se ajustaram aumentando as reservas". Para ele, uma coisa é carregar reservas (o caixa do país em moeda forte) com juros internos dez vezes maiores que os internacionais. Outra é carregar até mais reservas mas com juros menores. Texto Anterior: PSDB elegeu governadores de São Paulo, Rio e Minas Próximo Texto: Equipe descarta modelo argentino para real Índice |
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