São Paulo, domingo, 20 de novembro de 1994
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Equipe descarta modelo argentino para real

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A dolarização no modelo argentino não está nos planos imediatos ou de médio prazo da equipe econômica. Mas está um tipo de dolarização, que consiste na livre conversibilidade do real.
Há diversas modalidades ou níveis de conversibilidade. As principais são:
permissão para que os bancos locais operem em dólar (contas em dólar, por exemplo);
permissão para contratos em dólar (aluguéis, venda de imóveis etc);
permissão para que qualquer cidadão compre dólares no banco.
Esta última modalidade já está praticamente em vigor no Brasil. Tendo motivo, como viagens, compra de imóveis no exterior etc, qualquer pessoa pode comprar dólares, sem limites. A compra fica registrada.
Mas qualquer pessoa pode entrar na casa de câmbio de um doleiro e comprar dólares normalmente. Sendo o paralelo quase legal, e não havendo ágio em relação ao dólar turismo, é como se fosse livre a compra de moeda estrangeira.
Nesse caso, pode-se dizer que o real é livremente conversível.
O passo seguinte seria permitir contratos em dólar. Trata-se de uma espécie de indexação ao dólar e representa uma aposta forte na estabilização.
Não há decisão sobre isso na equipe econômica. Quanto ao terceiro tipo de conversibilidade -contas em dólar- a equipe decidiu que não vai fazer.
Na verdade, há diferenças dentro da equipe sobre como avançar na conversibilidade e na dolarização.
O presidente do BNDES, Pérsio Arida, desejaria avançar mais depressa e mais fundo. O diretor do Banco Central, Gustavo Franco, se opõe.
O presidente do Banco Central, Pedro Malan, e o assessor especial da Fazenda, Edmar Bacha, jogam no meio de campo.
Malan tem um bom modo de explicar as diferenças. Tudo gira em torno da viabilidade do ajuste fiscal, o conjunto de reformas destinadas a solucionar o desequilíbrio financeiro do setor público, fonte primária de inflação.
Para os que acreditam que o governo FHC tem condições de encaminhar o ajuste fiscal rapidamente, não há necessidade de se avançar na dolarização. O ajuste e a desindexação seriam a base do programa de estabilização.
Para os que acham que o ajuste será bloqueado ou atrasado por dificuldades políticas no Congresso, então a dolarização e a conversibilidade tornam-se necessárias.
Nesse raciocínio, a indexação ao dólar (contratos em dólar, por exemplo) passaria a ser uma âncora mais firme, dando condições ao plano de aguentar a demorada passagem do ajuste fiscal.
A dolarização pelo modelo argentino seria o limite dessa proposta. A taxa de câmbio real-dólar ficaria congelada, o governo estaria proibido de emitir real sem lastro em dólar e a moeda estrangeira teria curso legal.
É proposta radical pois o governo abre mão de sua moeda, que vira uma sub-moeda do dólar.

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