São Paulo, domingo, 20 de novembro de 1994
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Os novos pioneiros 1

LUÍS NASSIF

DE LAS VEGAS – Eles chegaram ao centro do mundo com a cara, coragem e a ajuda de um programa oficial –o Softex 2.000, cujo tamanho da verba é inversamente proporcional à ambição dos objetivos e ao empenho de seus funcionários: permitir que, até o ano 2000, o Brasil disponha de 1% do mercado mundial de software.
Na segunda-feira, dia da inauguração do evento, o estande brasileiro na Comdex de Las Vegas –a maior feira de software do mundo– destacou-se. Não pelo tamanho, mas pelo fato de ser o único que, em lugar de microcomputadores (que não chegaram a tempo), dispunha de um negrão enorme, absolutamente desengonçado (e norte-americano) com a camisa da seleção brasileira.
A Receita brasileira havia barrado na alfândega uma partida de micros da Itautec, que serviriam ao estande brasileiro, e o desembaraço só foi suficiente para permitir que os micros chegassem no segundo dia da feira.
Na terça, bem de manhã, lá estavam os heróis da grande aventura brasileira do software. Em vez de cercados pela imprensa, enaltecidos pela opinião pública de seu país, os cérebros, sobre os quais repousam as esperanças de entrada do Brasil na quarta onda tecnológica, arregaçavam mangas, abriam caixas e ajudavam a instalar equipamentos.
Poucos jornalistas especializados brasileiros apareceram. Estavam mais interessados na briga de Bill Gates com a Big Blue –como os tratam alguns deles, com familiaridade pernóstica–, em como o Chicago vai enfrentar o OS/2, se a Novell vai ser bem sucedida após a compra da Wordperfetc, nada que não tenha sido tratado à exaustão pela imprensa internacional.
No entanto, a história do Brasil estava sendo escrita ali, tal e qual as viagens dos pioneiros de Uberaba atrás do zebu da Índia, no começo do século. E poucos se davam conta das pepitas jornalísticas que se escondiam naquele estande, que tinha como símbolo visível o negrão desengonçado, que nada entendia de bola.
Nas próximas colunas se contará um pouco da história desses bravos pioneiros, criativos e atrevidos. Mostrar-se-á o enorme potencial do software nacional, a criatividade como negócio. Começando pela grande aventura da empresa brasileira que disfarçou a origem e venceu concorrentes norte-americanos numa licitação preparada pelas Forças Armadas dos Estados Unidos.
Mereceu um elogio do Departamento de Defesa e meia dúzia de linhas na imprensa nacional.

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