São Paulo, domingo, 20 de novembro de 1994
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Missão de paz requer diálogo e poder de fogo

RICARDO BONALUME NETO
DO ENVIADO ESPECIAL

Os pára-quedistas brasileiros logo perceberam que a missão de fiscalizar o cessar-fogo em Moçambique ficava a meio caminho entre a paz e a guerra. Dois incidentes típicos, ocorridos nas estradas em torno da base em Mocuba, mostram o porquê.
No último dia 9, uma explosão arrebentou um caminhão em uma transversal da estrada de Mocuba a Milange. A rádio estatal moçambicana falou em 21 mortos; houve um número parecido de feridos, alguns dos quais foram tratados na base brasileira.
A explosão provavelmente foi causada por uma mina. O caminhão, da polícia local, estava ilegalmente transportando explosivos e armas coletados de um depósito clandestino da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana).
Uma das funções exclusivas das forças da ONU é coletar o armamento da guerrilha e da governista Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique).
A iniciativa do chefe de polícia era, portanto, suspeita: ele queria as armas ou para vender, ou para equipar suas forças. Na melhor hipótese, queria "mostrar serviço", na interpretação de policiais militares brasileiros que fiscalizam a polícia local.
O caminhão pode ter explodido por falta de cuidado dos moçambicanos com explosivos. Segundo um dos feridos, o miliciano Alberto Coxiua, "o caminhão estava cheio de armas. Nós sentávamos em cima do armamento".
"Eles não sabem o que é detonador, espoleta. Armazenam explosivos e detonadores juntos. Tem um depósito em Quelimane que um dia vai matar muita gente", disse o subtenente italiano Mario Grillo, especialista em explosivos.
Na mesma região, uma patrulha brasileira em veículos blindados Urutus, comandada pelo primeiro-tenente Rogério Del Rio, escoltava caminhões com alimentos e foi cercada por 70 guerrilheiros que queriam a carga. Banditismo endêmico é um dos riscos à paz.
Del Rio precisou colocar seu pelotão em posição defensiva enquanto negociava com os guerrilheiros, sem saber quantos deles estavam armados.
A mistura de conversa com poder de fogo deu certo. O comboio prosseguiu e o tenente ainda conseguiu que os guerrilheiros liberassem três outros veículos que haviam capturado antes.
(RBN)

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