São Paulo, domingo, 20 de novembro de 1994
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O ano 2020

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Se tens um automóvel, certamente és um privilegiado! Apenas 7% da população do mundo são possuidores de carros.
Se tens uma bicicleta, também és um privilegiado! Menos de 20% da população mundial possui um destes veículos.
Tens luz elétrica em sua casa? Apenas lembra de que cerca de 1,5 bilhão de pessoas neste globo não dispõem deste privilégio. Quanta pobreza espalhada pelo mundo inteiro!
E no ano 2020, como será?
Possivelmente, teremos mais de 8 bilhões de habitantes, vivendo 85% no Terceiro Mundo e crescendo a uma taxa não superior a 1,4% ao ano.
O consumo energético deve crescer da ordem de 60%, ou seja, atingirá um patamar de 14 giga toneladas de óleo equivalente (o sufixo giga é utilizado para expressarmos a potência de 109).
Em outras palavras: o nosso consumo de energia cresceria para um total de 140 quatrilhões de KCal (140 x 1015 KCal), ou seja, aproximadamente o equivalente a 100 bilhões de barris de petróleo anualmente.
Não se assuste, meu caro leitor. Até lá não faltarão petróleo, carvão ou mesmo gás natural. De lá para diante é que possivelmente teremos problemas.
Até o ano 2020 é possível que a energia nuclear por fusão já possa ser competitiva. Esta é uma energia limpa que não deixa resíduos.
Com relação a alimentos, de uma maneira geral todos os países subsidiam a parte agrícola exatamente para manter a sua ordem política e social.
Nos Estados Unidos, os agricultores devem às entidades financeiras públicas e privadas mais de US$ 220 bilhões e, pelo que se sabe, jamais irão pagar tal dívida. Até mesmo com a intenção de protelar essa dívida, os agricultores daquela nação atacam intensamente os subsídios recebidos pelos agricultores do continente europeu dizendo que, ali sim, eles são exagerados, dificultando inclusive a colocação, através de exportação, de gêneros alimentícios dos Estados Unidos.
A verdade que realmente preocupa é a constatação do não-crescimento do consumo de fertilizantes.
Em 1950, o total de área plantada no planeta era de 593 milhões de hectares, ou seja, 2.300 metros quadrados por cada habitante.
Em 1992, plantaram-se 695 milhões de hectares resultando em apenas 1.300 m2/habitante. Graças a melhor tecnologia, conseguiu-se diminuir 1.000 m2/capita para o sustento de um indivíduo. Todavia esse índice não diminui desde 1988, o que significa que a tecnologia estancou, em outras palavras, deixou de melhorar.
À medida que os alimentos ficarem mais escassos, é bem possível que os atuais 40% da produção de grãos do mundo que são desviados para a alimentação de rebanhos venham a ser diminuídos e que, possivelmente, em vez de proteína animal o mundo tenha que se alimentar mais de proteína vegetal como a que ocorre na soja.
Pastagens seriam substituídas por campos de soja ou outras leguminosas capazes de nos suprir com proteínas.
Com todo o progresso, que certamente será enorme até o ano 2020, não nos esqueçamos de que sem alimento o homem não vive. Temos, em nosso Brasil, muita terra, muito sol e muita água. Só nos resta a vontade de priorizar a agricultura.

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