São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 1994
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Governo de Angola e guerrilha assinam paz

FERNANDO ROSSETTI
DE JOHANNESBURGO

O governo angolano e a Unita, grupo com quem luta há 19 anos, fecharam ontem um acordo de paz em Lusaka (Zâmbia). Um cessar-fogo permanente entra em vigor amanhã.
Mas nem o presidente, José Eduardo dos Santos, nem o líder dos rebeldes, Jonas Savimbi, colocaram suas assinaturas no documento.
Savimbi sequer foi a Lusaka, alegando que os bombardeios do governo às bases da Unita, semana passada, impediram sua saída.
Santos estava presente na cerimônia –junto com chefes de Estado de vários países do sul da África–, mas deixou a assinatura para seu ministro das Relações Exteriores, Venancio de Moura.
"O cessar-fogo só será respeitado com a assinatura do presidente José Eduardo do Santos e do líder dos rebeldes Jonas Savimbi", avaliou em sua primeira página o "Jornal de Angola" ontem.
Em 1992, mesmo com a assinatura dos dois, um outro acordo de paz acabou sendo rompido, depois que a Unita perdeu as primeiras eleições multipartidárias do país.
Mas a situação atual é diferente da de dois anos atrás. A Unita, que contou durante os anos 80 com o apoio dos EUA e da África do Sul, não tem mais financiadores.
O governo, que em 1992 havia se desarmado por causa do acordo, investiu pesadamente em armas e treinamento para o Exército.
Apesar de endividar o país –pelo menos cinco anos da produção de petróleo serão para pagar a conta–, o investimento deu resultado e o governo ganhou militarmente a guerra nas últimas semanas.
O problema agora será desarmar a população. O acordo prevê que os ex-guerrilheiros sejam incorporados ao Exército oficial –experiência que tem sido uma das questões mais explosivas da "nova" África do Sul.
Para garantir o cessar-fogo, a ONU deverá enviar uma força de paz de 7.000 soldados. Também será formada uma comissão, com representantes dos EUA, Rússia e Portugal, para acompanhar a implementação do acordo.
O documento prevê um segundo turno para as eleições de 1992 –em que a Unita alegou haver fraudes. Savimbi terá uma das duas vice-presidências do país. Haverá também representantes da Unita nos gabinetes do governo.
A guerra civil no país começou logo após a independência do país em relação a Portugal, em 1975.
Tanto o MPLA (Movimento Popular pela Libertação de Angola), desde então no governo, como a Unita (União para a Independência Total de Angola) participaram da luta pela independência, em outra guerra de mais de dez anos.
Atualmente, Angola –um dos países mais ricos em recursos naturais da África– está completamente destruída. Calcula-se que 500 mil pessoas foram mortas na guerra.

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