São Paulo, terça-feira, 22 de novembro de 1994
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Impasse na negociação leva petroleiros a ameaçar greve

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A primeira tentativa do governo de refazer o acordo firmado semana retrasada com os petroleiros fracassou.
A reunião foi tensa e, depois da primeira meia hora de negociação, os dirigentes sindicais chegaram a levantar da mesa para ir embora. Foram convecidos por Pimentel a voltar.
Ao final de três horas e meia de reunião, os petroleiros deixaram o gabinete do ministro Trabalho, Marcelo Pimentel, ameaçando entrar em greve.
Diante do impasse, Pimentel foi ao Palácio do Planalto onde se reuniu com o presidente Itamar Franco. Às 19h30, os dois ainda procuravam soluções alternativas ao acordo para evitar a greve.
Uma nova reunião com os petroleiros poderia acontecer ainda ontem à noite.
Para o ponto mais polêmico do acordo –a concessão de diferença salarial gerada pelo Plano Bresser–, o governo sugeriu como alternativa que os petroleiros entrassem com uma ação de dissídio de natureza jurídica junto ao TST (Superior Tribunal do Trabalho). Os petroleiros não gostaram.
"Queremos o cumprimento do acordo já firmado. Não temos contraproposta", disse Antônio Carlos Spis, coordenador da FUP (Federação Única dos Petroleiros).
Segundo os dirigentes, a categoria não está disposta a abrir mão de qualquer item do acordo, que concedeu, por exemplo, dois salários adicionais a título de reposição de perdas do Plano Bresser.
Outro benefício foi a não correção do adiantamento dado em fevereiro sobre 13º salário. Com isso, o desconto a ser feito agora ficaria menor, aumentando em 38% a diferença a receber.
Os petroleiros ainda disseram não estar dispostos a esperar muito por uma nova rodada de negociações. "Se o governo protelar a decisão, a categoria vai se sentir enrolada. Vamos dar uma resposta mais séria que na última greve (setembro)", ameaçou Spis.
Segundo os sindicalistas, não houve condições de se chegar a um entendimento porque o governo quis simplesmente revogar tudo o que tinha concedido antes.
O ministro do Trabalho alegou que, sem a sua assinatura, o acordo original não tinha validade.
O documento foi assinado apenas pelo ministro das Minas e Energia, Delcídio Gomez, que negociou a maior parte das cláusulas.
Apesar de ter sido o negociador do ponto mais polêmico (Plano Bresser), Pimentel recusou-se a assinar por discordar de muitos itens negociados por Delcídio.
Delcídio e o presidente da Petrobrás, Joel Rennó, também participaram da reunião.
Apesar do impasse, Rennó saiu do ministério dizendo que tudo ia "muito bem" e que os petroleiros estavam "muito receptivos".
Pimentel falou pouco ao sair. Negou que iria ao presidente Itamar Franco tentar contornar a crise e que poderia se reunir de novo com os sindicalistas mais tarde.
"Nós já nos reunimos muito", afirmou o ministro.
A crise começou em setembro quando, descontentes com o reajuste salarial de 15% na data-base, os petroleiros fizeram greve. O TST considerou a paralisação abusiva e ilegal.
Em 5 de outubro, Itamar reuniu-se com representantes da categoria e o presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva, para discutir um acordo.
Como a Petrobrás ameaçou não cumprir o que havia sido definido, o governo convocou a reunião do dia 10, que gerou o atual impasse.

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