São Paulo, terça-feira, 22 de novembro de 1994 |
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Cocaína volta a ser vendida no morro LUÍS EDUARDO LEAL LUÍS EDUARDO LEAL; VICTOR AGOSTINHO; SÉRGIO TORRES
Por volta das 14h30, um rapaz aparentando 18 anos se ofereceu para intermediar a compra de um cliente próximo ao Buraco Quente –local na entrada do morro onde a droga é comercializada. Cobrou R$ 2,00, o preço do papelote mais barato, e R$ 0,45 de "taxa de serviço". Em menos de cinco minutos reapareceu com a cocaína. Perguntou ao cliente se estava "polícia" (ou seja, sem problemas) e entregou o papelote. Os dois saíram em seguida. Os usuários da droga que não conseguiam esperar para consumir a cocaína em outro lugar cheiravam-na no próprio Buraco Quente, um largo cercado por uma igreja e por um pequeno comércio. Por volta das 13h30, três homens consumiam cocaína em um grande pedaço de espelho. Dois homens saíram em seguida. O terceiro –branco, muito magro, aparentando 28 anos– foi agredido a socos por um homem negro, alto e forte, quando conversava com a reportagem da Folha. O homem recriminou o usuário da droga por conversar com jornalistas e o obrigou a deixar o local. O tráfico no morro da Mangueira começou, de forma discreta, duas horas depois que os soldados do Exército deixaram a favela. Às 7h15, chegou o primeiro carro à procura de cocaína. Era um táxi. O motorista desceu e perguntou a um rapaz que vendia mangas na entrada do Buraco Quente: "Está funcionando?". Foi a senha para que o adolescente lhe dissesse que a venda da droga iria começar mais tarde, "se estivesse tudo limpo". Às 8h30, o ponto abriu. Três "aviões" (adolescentes que sobem o morro e entregam a droga aos consumidores) desceram pelo Buraco Quente aspirando cocaína. O movimento no local ficou intenso. Durante cerca de uma hora, as rodinhas se formavam e a droga era consumida na calçada. O papelote com o suficiente para seis doses de cocaína estava sendo vendido pelos traficantes por R$ 10,00. Entre 13h e 16h45, a Polícia Militar realizou uma "Operação Pista Limpa", em busca de drogas e armas. A cerca de 200 metros da entrada do morro da Mangueira, foram revistados 33 veículos de carga. Nada foi apreendido. Dendê Os fuzileiros navais desocuparam o morro do Dendê (Ilha do Governador, zona norte do Rio) às 5h30 e voltaram a invadi-lo duas horas e meia depois. O retorno não foi explicado pelo comando dos cerca de 200 fuzileiros, que a partir das 8h passaram a fazer rondas motorizadas. Além das rondas, os fuzileiros simularam ações de combate em escadarias, becos e ladeiras. Ao contrário do que ocorria desde sábado, a entrada dos fuzileiros na favela pôde ser acompanhada por jornalistas. Nenhum incidente havia sido registrado até as 17h. Colaborou SÉRGIO TORRES, da Sucursal do Rio Texto Anterior: Exército e Estado travam duelo Próximo Texto: CML muda versão sobre saída Índice |
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