São Paulo, terça-feira, 22 de novembro de 1994
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Impasse na negociação leva petroleiros a ameaçar greve

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A primeira tentativa do governo de refazer o acordo firmado no dia 10 com os petroleiros fracassou. Os trabalhadores decidiram entrar em greve a partir de 0h de amanhã se o governo mantiver a posição de revogar o acordo original.
Nova reunião entre a categoria e o ministro Marcelo Pimentel (Trabalho) deve ocorrer hoje às 14h.
Segundo o coordenador da FUP (Federação Única dos Petroleiros), Antônio Carlos Spis, existe risco de desabastecimento de combustíveis e gás de cozinha caso a greve se concretize.
"Se entrarem em greve, a Petrobrás entrará com dissídio de greve junto ao TST (Tribunal Superior do Trabalho), imediatamente", disse Pimentel.
A reunião de ontem, entre os petroleiros e os ministros Pimentel e Delcídio Gomez (Minas e Energia), foi tensa. Meia hora depois de iniciada, os sindicalistas chegaram a se levantar para ir embora. Pimentel os convenceu a voltar.
Ao final de três horas e meia de discussão, o impasse levou Pimentel ao Palácio do Planalto tentar uma solução alternativa junto com o presidente Itamar Franco.
Itamar telefonou às 19h30 para o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho. Pediu que ele intercedesse para que fosse mantido o diálogo. Vicentinho disse que antes teria que consultar os petroleiros.
A Folha apurou que o Ministério da Fazenda estudava ontem uma solução que será oferecida hoje a Itamar: anunciar uma redução nos preços dos combustíveis, caso haja greve.
Politicamente a medida jogaria a sociedade contra os petroleiros. Economicamente, a redução nos preços dos combustíveis sairia mais barata do que o acordo.
"Queremos o cumprimento do acordo já firmado. Não temos contraproposta", disse Spis.
Segundo os sindicalistas, não houve condições de se chegar a um entendimento porque o governo quis revogar todo o acordo.
O ministro do Trabalho alegou que, sem a sua assinatura, o acordo original não tinha validade.
O documento foi assinado apenas pelo ministro das Minas e Energia, Delcídio Gomez, que negociou a maior parte das cláusulas.
Apesar de ter sido o negociador do ponto mais polêmico (reposição de perdas do Plano Bresser), Pimentel recusou-se a assinar por discordar de muitos itens.
Delcídio e o presidente da Petrobrás, Joel Rennó, também participaram da reunião de ontem.
O governo apresentou duas propostas em relação ao resíduo de perdas do Plano Bresser. As duas foram rejeitadas. Pela primeira proposta, os petroleiros poderiam entrar com dissídio de natureza jurídica junto ao TST e ficaria valendo a decisão da Justiça.
A segunda proposta autorizava a Petrobrás a pagar salários duplos em dezembro e janeiro para saldar o resíduo reclamado, referente aos anos de 1987 e 1988.
Em contrapartida, os petroleiros teriam de desistir das ações que movem em várias instâncias judiciais. Segundo Pimentel, 95% dos funcionários da Petrobrás movem ações na Justiça desta natureza.
O ministro levou uma terceira proposta para discussão no Planalto, que o governo preferiu não bancar. A Petrobrás pagaria as duas parcelas do resíduo, desde que os trabalhadores devolvessem o dinheiro, caso o TST decidisse que o pagamento não é devido.
A idéia foi descartada porque o governo teme provocar uma avalanche de reivindicações semelhantes de outras estatais.

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