São Paulo, terça-feira, 22 de novembro de 1994
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Produção industrial bate recorde

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria comemora um recorde de expansão no terceiro trimestre do ano (julho a setembro): um saldo de 63% (diferença entre os percentuais de expansão e contração de setores industriais), contra o recorde anterior de 56%, no terceiro trimestre de 85, segundo a Fundação Getúlio Vargas.
Nesse período, a utilização da capacidade de produção registrou o nível médio de 83%, o maior desde outubro de 1989.
Segundo a 113ª Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, realizada pelo Centro de Estudos Tendenciais, da FGV do Rio, a indústria espera, para o período outubro-dezembro, um crescimento da produção de 22% em relação ao trimestre anterior.
Eden Gonçalves de Oliveira, diretor do centro, diz que embora a utilização da capacidade instalada da indústria esteja "próxima do limite", as medidas para liberalizar e facilitar as importações e para conter o crédito "atenuarão" o impacto do estrangulamento da produção na oferta de bens manufaturados nos próximos meses.
"O Plano Real induziu transferência do imposto inflacionário de cerca de R$ 15 bilhões por ano aos consumidores", diz. "A expansão do consumo será, neste fim de ano, freada pelas medidas de contenção da demanda, que deverão afetar principalmente bens duráveis", afirma.
"A indústria pode, embora não esteja livre de algumas faltas pontuais, atender o consumo estacional das festas de fim de ano", diz.
Os estoques de produtos industriais diminuíram em julho-setembro de 1994, tornando-se insuficientes em 12% do mercado, segundo a sondagem. No trimestre anterior, a insuficiência de estoques atingia 2% do mercado.
A queda dos estoques é maior nos setores de perfumaria (97%), tintas, esmaltes e solventes (77%), máquinas de costura, refrigeradores, lavadoras e secadoras de roupa (54%).
Antonio Lanzana, do Departamento de Economia da Fiesp, não acredita em falta de produtos neste fim de ano, apesar de alguns setores operarem a "todo vapor".
Segundo ele, "além da diminuição recente da demanda, a viabilidade do comércio de atender o mercado com importações afasta o risco do desabastecimento".
A sondagem da FGV, com informações de 1.451 empresas, indica que a indústria de transformação operava em outubro a 83% da capacidade, nível recorde desde outubro de 1989, estando com ociosidade nominal de 17%.
Antonio Lanzana diz que a indústria vai procurar "extrair tudo" da atual capacidade instalada de produção. Para ele, os investimentos em novas fábricas ou na ampliação das atuais só ocorrerão depois da sinalização pelo governo de FHC das reformas estruturais que permitirão que o país "salte, com consistência, para um novo patamar de produção".
Eden Gonçalves de Oliveira prevê um crescimento de "pelo menos 5,5%" para a produção da indústria de transformação em 94, em relação a 93.
Segundo a FGV, os níveis de utilização da capacidade de produção mais elevados se verificam nos setores de celulose (99%), automobilístico (97%), papel para impressão (96%), combustíveis e lubrificantes derivados do petróleo (93%), produtos petroquímicos (93%), papel, papelão e artefatos para embalagens (93%) e eletroeletrônicos (91%).
A sondagem da FGV mostra que, com relação às expectativas para o quarto trimestre de 1994, 52% da indústria prognostica aumento dos custos de produção.
As previsões empresariais apontam expectativas de intensificação da pressão dos custos de mão-de-obra, devido aos dissídios coletivos em importantes categorias de trabalhadores industriais, tornando-se o fator preponderante para 36% dos informantes.
Apesar disso, em outubro, a maior parte da indústria (79%) previu estabilidade dos preços dos manufaturados para o quarto trimestre, assim como dos preços de seus próprios produtos (86% do setor industrial).

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